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O Censo do IBGE de 2010 confirmou uma tendência da diminuição de pessoas pertencentes à Igreja Católica e um aumento da pertença às igrejas evangélicas e aos sem-religião. Embora a Igreja Católica continue com a grande maioria dos seus fiéis, a instituição caiu dos 73% revelados pelo censo de 2000 para 65% da população no censo de 2010; por sua vez, houve um aumento dos que dizem não ter religião para 8%, e, no caso das igrejas evangélicas, para 21%. Essa mesma pesquisa apontou para o inchaço da categoria "evangélica não determinada", onde a pessoa se diz evangélica, mas participa de várias denominações; a Igreja Universal perdeu, nos últimos anos, mais de 10% de seus fiéis para a Igreja do Poder de Deus.

No entanto, o censo não revela algumas variantes, especialmente no âmbito da Igreja Católica, que percebeu um crescimento da consciência eclesial de seus membros. Nunca as igrejas estiveram tão cheias como nos últimos anos. Há 50 anos mais de 90% dos brasileiros se diziam católicos, mas a Igreja não tinha mais que 10% de pessoas que efetivamente participavam da vida da Igreja. Hoje se percebe o contrário: uma proporção maior dos que se dizem católicos tende a ter uma participação engajada nos meios eclesiais.

A Igreja Católica, que tinha suas estruturas mais em função do clero, após o Concílio Vaticano II (1962-1965) passou a ser mais inculturada, participando ativamente da vida das pessoas. A instituição que mais fez frente ao período ditatorial no Brasil, de 1964 a 1985, foi justamente a Igreja Católica, especialmente defendendo a dignidade da pessoa humana e sua liberdade diante das forças autoritárias.

Na América Latina esta mesma Igreja optou pela comunitariedade, especialmente motivada pelas conferências de Medellín (1968) e Puebla (1979), fortalecendo a experiência cristã de vida em comunidade. A Igreja deixa de ser um "supermercado" que oferece serviços para ser uma entidade que congrega pessoas para rezarem em comum e se ajudarem na perspectiva da solidariedade; não há Cristianismo sem a vida em comunidade.

Assim, a Igreja Católica tende a perder na quantidade, mas não na qualidade, pois seus membros tendem a ser mais ativos e protagonistas da caminhada religiosa e social. É importante que seus membros não se deixem levar apenas pelo marketing religioso com o objetivo de reconquistar membros em detrimento da qualidade ensinada nos Evangelhos, que é a vida solidária em comunidade. Para o clero e para os religiosos, fica o recado de que devem, sim, fortalecer a sua presença nos meios populares, participando da vida do povo e animando, de maneira democrática, a vivência comunitária.

A armadilha do marketing religioso, especialmente das igrejas que vivem na mídia, é favorecer as ofertas mágicas desfazendo da sociabilidade fraternal e comunitária. A ênfase na oferta de ritual religioso com soluções mágicas faz com que a pessoa seja apenas um "cliente" descompromissado e também frustrado, pois a solução mágica não é duradora. Esta é a razão pela qual as "igrejas eletrônicas" tendem a não manter a perseverança de seus membros. Por isso, mesmo que a Igreja Católica perca na quantidade, é fundamental que ela continue investindo na consciência eclesial de seus membros para que ajudem a edificar uma sociedade em que todos tenham qualidade de vida, sendo justa e solidária.

Joaquim Parron, sacerdote católico, é presidente dos Missionários Redentoristas do Brasil e doutor em Ética Social.

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