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Chega a ser inexplicável que, conhecidas todas as tecnologias e políticas educacionais que já deram certo em outros lugares do mundo, o Brasil continue com um sistema educacional caótico e pouco eficiente

Uma das questões mais estudadas pelos economistas e por outros cientistas sociais é por que algumas nações conseguem alto desenvolvimento econômico, enquanto outras patinam em atraso e baixo nível de bem-estar. Sabe-se que a primeira condição para um país sair do atraso e oferecer elevado padrão de vida a seu povo é o tamanho da renda anual por habitante, a conhecida renda per capita. A segunda condição está relacionada ao modo como a renda nacional é distribuída entre seus habitantes. A terceira condição é que o governo consiga construir infraestrutura física suficiente para suportar o crescimento do produto e oferecer serviços públicos universais e de boa qualidade.

Quanto à primeira condição, uma nação tem possibilidade de atender satisfatoriamente a todos os itens de bem-estar para toda sua população com uma renda per capita de US$ 20 mil/ano. Com renda nessa faixa, os componentes de bem-estar (alimentação, moradia, transporte, saúde, saneamento, educação, previdência, segurança e lazer) podem ser atendidos em um nível elevado. Mas, embora a renda por habitante seja condição necessária, ela não é suficiente.

A segunda condição é que a renda seja distribuída de forma a tornar pequena a desigualdade entre os que estão no topo da pirâmide social e os que estão na base – ou seja, que todos os que ganham menos tenham o suficiente para um bom padrão de vida. Nessa equação, a terceira condição tem um papel importante. Trata-se de como o governo se comporta em termos de investimentos em infraestrutura e oferta de serviços públicos.

O Brasil esbarra nas três condições, pois aqui todas são insuficientes para colocar a sociedade no clube dos países adiantados. A condição na qual o país conseguiu o maior avanço foi a primeira: o crescimento da renda per capita. Embora sem atingir os US$ 20 mil/ano para um alto padrão, a divisão do Produto Interno Bruto (PIB) pela população brasileira já chegou a US$ 10,6 mil, o que seria suficiente para colocar o país no caminho de bem-estar para todos os seus habitantes.

O padrão de vida médio no Brasil é inferior ao que já seria possível com o tamanho de sua renda per capita. A razão é que as duas outras condições estão longe do ideal. A renda ainda é muito mal distribuída entre as várias classes sociais, fazendo com que a população situada na base da pirâmide não tenha renda suficiente. Além disso, a população de pobres representa 20% do total de habitantes (38 milhões de pessoas) e os classificados como extremamente pobres representam 7% (13,3 milhões de pessoas).

O quadro social acaba sendo piorado porque a terceira condição (oferta de infraestrutura e serviços públicos pelo governo) anda em estado lamentável. O governo não dá conta de fazer os investimentos em infraestrutura nem oferece serviços públicos de qualidade. A máquina estatal é inchada, o sistema político é corrupto, a operação governamental é ineficiente, a carga tributária é alta e mal formulada, e o bem-estar social é prejudicado.

O país ainda é muito pobre e a legião de pessoas vivendo na pobreza e em péssimas condições é muito grande. Identificar os motivos de as três condições não serem cumpridas não é tarefa fácil. Alguns estudiosos atribuem o atraso brasileiro a causas antropológicas (a origem e a cultura da população), a raízes sociológicas (a estrutura da sociedade brasileira, seus usos e costumes), a razões políticas (os vícios do sistema de governo e o apodrecimento moral das instituições) e a causas econômicas (a cultura estatizante e xenófoba que caracterizou o modelo nacional). Apesar de haver divergência de análise e interpretação sobre as razões do atraso e também de serem várias as propostas de solução para que o país consiga enriquecer antes de envelhecer, há um tema que é consenso: a necessidade de revolucionar a educação em todos os níveis, sem o que o desenvolvimento torna-se quase impossível.

Apesar disso, chega a ser inexplicável que, em plena segunda década do século 21, conhecidas todas as tecnologias e políticas educacionais que já deram certo em outros lugares do mundo, o Brasil continue com um sistema educacional caótico e pouco eficiente. Sem educação de qualidade para todos, sem desenvolvimento científico e sem inovação tecnológica, a saída do atraso e da pobreza é tarefa praticamente impossível.

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