Na recém realizada revisão do plano diretor, a prefeitura de Curitiba já deu os sinais de que pretende fazer participação popular sem o povo. Depois de mais de um ano de discussões sem uma metodologia clara e definida, e sem resultados concretos, a gestão de Gustavo Fruet encaminhou para a câmara de vereadores um projeto de revisão do plano diretor que não assimilou as propostas da sociedade civil.

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Com isso, no fim de 2015 os vereadores elaboraram mais de uma centena de emendas ao projeto da prefeitura, atendendo às diversas reivindicações da sociedade. Fora do Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba (Ippuc), órgão municipal responsável pela revisão do plano diretor, ninguém defendeu o projeto original encaminhado pela prefeitura. Foi o sinal de que a proposta encaminhada pelo prefeito estava incompleta e distante da realidade.

A tendência é que a 6ª COMCURITIBA seja um evento esvaziado, ou ocupado pelos “amigos do rei”

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A lei obriga os municípios a promoverem a participação popular nas discussões sobre o desenvolvimento urbano, mas isso não deveria ser encarado como um ônus pela prefeitura, e sim como uma oportunidade de discutir junto com a sociedade visões consensuais a respeito do futuro da cidade. Entretanto, aferrado à sua tradição, o Ippuc ainda tem sido avesso a qualquer tipo de contribuição da sociedade, e dirige seus trabalhos para o enfrentamento contra as propostas populares.

Dessa postura, resulta que a atual gestão da prefeitura de Curitiba tem se limitado a cumprir formalidades no campo da participação popular, e às vezes nem isso. Não existem iniciativas amplas de educação para a cidadania ou informação a respeito do plano diretor e demais leis municipais que ordenam o desenvolvimento urbano, não existem convites generosos à participação em eventos abertos e, normalmente, tudo é marcado para ser feito às pressas, para não deixar vencer o prazo legal.

Novamente fomos surpreendidos pela atuação desarticulada e avessa à participação popular na prefeitura de Curitiba. Neste ano de 2016, como regra, todos os municípios brasileiros devem realizar sua Conferência da Cidade, um encontro com participação de toda a sociedade para tratar dos rumos do desenvolvimento urbano da cidade. Em Curitiba, será a 6ª Conferência Municipal da Cidade, chamada de COMCURITIBA.

A data limite para a realização é dia 5 de julho. Três meses atrás, o prefeito editou um decreto informando que a cidade realizaria a Conferência, mas não disse quando. Na segunda-feira dia 23 de maio, há uma semana, os membros do Conselho da Cidade de Curitiba foram informados a respeito da data de realização do evento, e datas limite para inscrição. Até agora nada foi divulgado no site oficial.

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E as inscrições para participar terminam no próximo dia 5 de junho, em menos de uma semana. O evento está agendado para começar no dia 15 de junho.

De acordo com o regimento do evento, as inscrições estariam abertas já desde o dia 24 de abril, mas certamente é uma informação errada, pois o regimento só foi divulgado no dia 23 de maio, e na última quarta-feira, dia 25 de maio, o sistema de inscrição ainda estava fora do ar. Como entender esse processo kafkiano?

Ou seja, a tendência é que a 6ª COMCURITIBA seja um evento esvaziado, ou ocupado pelos “amigos do rei”, aqueles que sabem das informações que ninguém mais sabe.

Colaborando com a ampliação da participação popular, aproveitamos esse espaço para divulgar: para aqueles que tiverem interesse, acessem o site http://concitiba.ippuc.org.br/comcuritiba6/, onde poderão encontrar mais informações a respeito desta Conferência.

A Conferência da Cidade é um evento muito importante. Depois da revisão do plano diretor e, agora, durante a discussão sobre a lei de zoneamento, nota-se que há muito para melhorar nos rumos do desenvolvimento urbano da cidade de Curitiba. A grave desigualdade social e a desestruturação urbana que está dominando a cidade seriam os temas básicos para a discussão ampla com toda a população.

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Mas, com esse esquema de desinformação, a prefeitura de Curitiba brinca de esconde-esconde, e impede a população de acessar os canais de participação direta. Pelos meios formais, afirma que vai haver um evento participativo aberto à população, mas, na prática, não divulga para ninguém, deixa a informação escondida. Nada foi anunciado no site da prefeitura, nem nos jornais de grande circulação. Quem achar os canais de participação ganha a brincadeira.

E certamente haverá propaganda de que a prefeitura realizou mais este evento participativo...

Novamente, o Ippuc parece encarar a participação popular como um ônus. Não encontram na participação a oportunidade para melhorar seu plano de cidade, para divulgar suas ideias e receber novas sugestões. Fecham-se em seu meio técnico menosprezando as ideias originais da sociedade. No fundo, tudo isso talvez seja porque sequer tenham um plano para a cidade.