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Rio de Janeiro – No princípio, a inteligência estava acima de todas as coisas. Lado a lado com a beleza – que, já dizia Platão, é o esplendor da verdade. Aos poucos, com os trancos e barrancos da vida, fui percebendo que a inteligência era uma baia (não confundir com Bahia) onde a burrice se cevava, engordava, dava crias. E a beleza, bem, nada mais era do que um ponto de vista.

O pôr-do-sol que admiramos do Arpoador pode ser considerado banal, dividido entre muita gente, tornando-se monótono, o que acontece todos os dias quando não chove, e é igual a outros "tramontos".

Basta o cidadão se deslocar alguns metros no terreno e o Sol ainda não se pôs nem se porá, pois há o amor que move o Sol e as estrelas – e aqui entra uma erudita citação de Dante. E outra de Kipling, citada por Orson Welles sobre arte: Adão estava na dele, olhando tudo em volta. De repente, apanhou um pedaço de pau e começou a desenhar: um rosto, talvez uma paisagem.

Tal como o Senhor que o criara, Adão achou sua obra boa e bonita. Mas aí a Serpente, atrás de uma parreira, botou a sua lingüinha bipartida para fora e comentou: "Sim, é bonito... mas é arte?". O drama está todo aí – e, de Adão em diante, a serpente saiu das parreiras e se aninhou dentro de nós.

É bonito..., mas vale a pena? O que vale a pena? Fernando Pessoa disse que tudo vale a pena se a alma não é pequena, mas como se pode medir um valor imensurável? De graça, até a graça não tem graça nenhuma.

Lembro o Adolpho Bloch, que barganhou até o impossível o preço de uma encomenda editorial. Rubem Braga, meio chateado com o secular know-how de pechinchar dos judeus, desabafou: "Tá bem, Adolpho, eu escrevo isso de graça para você!". E o Adolpho, indignado: "Não! De graça nem por um milhão de cruzeiros!".

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