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Rio de Janeiro – Uns dias de molho e fiquei sem passar pela praia de Copacabana, que desde a minha infância faz parte do meu itinerário urbano. Ontem, aproveitando a tarde bonita, peguei a Avenida Atlântica na direção Leme–Posto Seis.

Fiquei espantado, e mais que espantado, irritado, com a sucessão de tapumes na areia, desfigurando não apenas o desenho da praia, mas dando a impressão de uma favela em construção. Cada tapume, acredito eu, será uma arena esportiva ou um "espaço cultural" dos muitos que se criam por aí.

Lembro uma crônica de Machado de Assis sobre a baía de Guanabara por ocasião de um melhoramento qualquer que a prefeitura cismou de fazer, se não me engano, ali pela altura da praia do Flamengo. Machado temia ver a baía inteira aterrada, transformada num circo de cavalinhos.

Circo de cavalinhos, no tempo de Machado, seria uma espécie de espaço de lazer e cultura. A crônica foi muito lembrada por ocasião do aterro do Flamengo, que teve o mérito de ser disciplinado por urbanistas e paisagistas, sob a direção inteligente de Carlos Lacerda. Não é o que está acontecendo em Copacabana. Os tapumes são horrorosos em si mesmo e deverão esconder eventos certamente horrorosos para aquele local.

Lembro também quando foi ampliada a praia de Copacabana no governo de Negrão de Lima. Alguns tubarões imobiliários apresentaram projetos que construiriam prédios do outro lado da avenida. O preço dos terrenos resultantes daria renda colossal para os cofres do antigo Estado da Guanabara.

Evidente que Negrão de Lima repudiou a idéia, embora alguns órgãos da imprensa a tivessem apoiado. Foi pensando nisso que também lembrei de uma crônica de Rubem Braga: "Ai de ti, Copacabana!".

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