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Acredito que muitos se escandalizaram com a foto publicada ontem, na qual dois políticos, um presidente da República e um ex, Lula e Collor exatamente, estão abraçados, sorrindo, dividindo o mesmo palanque. Não se precisa ir tão longe no passado para lembrar a campanha em que os dois se engalfinharam, inclusive com o baixo recurso usado por um deles, que desencavou uma filha bastarda do outro. Coisas.

Política é assim mesmo – dizem os políticos. Citam a famosa foto de Luiz Carlos Prestes, recém-saído da prisão do Estado Novo, ao lado de Getúlio Vargas, que para todos os efeitos históricos ficou sendo o seu carcereiro. Queiramos ou não, os dois estavam certos, como Lula e Collor politicamente estavam certos quando brigavam e estão certos quando voltam à cordialidade que se espera dos homens públicos.

Mas nem todo mundo é político – graças a Deus. Em outros setores da faina humana, as coisas são diferentes. Dou um exemplo: Monteiro Lobato queria entrar na Academia Brasileira de Letras, tentou três vezes, retirando a candidatura que já lançara.

Numa das vezes, tinha tudo para ser eleito, inclusive com o voto de Getúlio Vargas, que tomara posse após uma reforma no regimento da ABL. Com o prestígio, a popularidade e o valor literário consagrados, Lobato já podia encomendar o fardão. Mas o jornalista Júlio Mesquita, seu amigo e admirador, ponderou: ‘Você vai sentar ao lado do homem que o prendeu e o manteve preso tantos anos!’ No mesmo dia, Lobato retirou sua candidatura. Coisas.

No enterro de Magalhães Jr., no complicadíssimo cemitério São João Batista, cheio de degraus e buracos, vi o comunista Dias Gomes levando praticamente no colo o general da Junta Militar, Lyra Tavares. Mais uma vez: coisas.

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