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Não sei se ainda existem. Devem ser poucos. Antigamente eram muitos. Vendedores de bilhete da Loteria Federal estavam em toda a parte, caçando potenciais compradores, esfregando na cara de suas vítimas os bilhetes que garantiam a sorte na base de "seu dia chegará".

Os mais afoitos se agarravam na dezena final e apelavam para os números do jogo de bicho, olha o pavão, quem vai querer o avestruz, hoje é o dia do cachorro. Havia uma dezena que merecia um marketing diferente. Era o desprezado 13.

– Quem vai querer o desprezado 13?

A variante era constrangedora: "Quem nasceu na feliz data de 1926?" Valia tudo para despertar a esperança que não é exatamente a última que morre, mas a primeira que nasce. Nunca fui de tentar o destino e dou de barato que não tenho sorte com a sorte. Contudo, por solidariedade para com os desprezados, sempre me sentia um deles e não resistia ao apelo.

O técnico Zagalo é famoso porque adotou o 13 como a chave do sucesso que lhe deu três campeonatos mundiais. Nos Estados Unidos, há edifícios que aboliram o 13º andar, passam do 12 para o 14 em solene desprezo pelo mesmíssimo 13.

Houve um dia – sempre há um dia – em que fui na onda e comprei um desprezado 13, andava em complicada fossa sentimental por causa de uma tal de Dolores, que morava na Glória mas trabalhava num salão de beleza do Leblon. Comprei o bilhete, aliás, a metade de um, fiz planos mirabolantes, ela não resistiria à minha súbita abastança.

Deu o 13 na cabeça, inteiro, 002413, me senti milionário pela metade. Fui à casa lotérica buscar o que era meu. O homem riu na minha cara. "Este bilhete não vale, veja a data, só vai correr no mês que vem". E novamente riu na minha cara, com desprezo.

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