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Vítimas e cúmplices desse excesso de informação, freqüentemente entramos em fossa quando temos necessidade de nos comunicar com o vizinho, o síndico do prédio, a Receita Federal, a mulher que amamos e os desafetos que detestamos

Rio de Janeiro – Sempre achei poética a maneira de os índios e povos primitivos se comunicarem à distância: faziam um foguinho, abafavam a fumaça com um pano qualquer e erguiam ao espaço os símbolos que significavam alguma coisa pré-estabelecida. A mão-de-obra para esse tipo de expressão limitava as mensagens ao essencial e urgente.

Quando Marconi descobriu o telégrafo sem fio, muitos séculos depois da fumaça, sentiu necessidade de usar signos que economizassem as mensagens ao osso da questão. No alfabeto Morse, ficaram famosas três letras, SOS, que significavam "salvai nossas almas" ("save our souls"). Também podia ser "salve nossas peles" ("save our skins"). Dava no mesmo. Quem recebia a mensagem ficava sabendo que alguém pedia socorro. Mesmo que não pudesse atender, ficava informado de que alguém estava na pior.

Pulando da fumaça dos índios e de Marconi para a internet, vivemos hoje uma pletora de informações que nem sempre atendem ao desejo básico do ser humano de se comunicar. Oferta maior do que a procura, somos bombardeados por trilhões de caracteres e imagens que nos dão a cotação da juta no mercado de Melbourne, o tempo em Papua-Nova Guiné e a crise conjugal do presidente da França.

Vítimas e cúmplices desse excesso de informação, freqüentemente entramos em fossa quando temos necessidade de nos comunicar com o vizinho, o síndico do prédio, a Receita Federal, a mulher que amamos e os desafetos que detestamos.

Portais e sites estão à disposição de um número cada vez maior de pessoas que desejam se comunicar, embora sem nada de importante a comunicar, nem o final de uma batalha, como o herói de Maratona, que morreu após correr 42 quilômetros para dar uma notícia, nem o início do terceiro mandato do presidente Lula.

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