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Rio de Janeiro – O carioca é mesmo chegado a uma vaia. Os exemplos são muitos e lembro um deles, de 1965, já no regime ditatorial que impediria qualquer manifestação de desagrado ou contestação. Foi na abertura de uma conferência da Organização dos Estados Americanos (OEA), no hotel Glória, presidida pelo marechal Castelo Branco, o primeiro dos cinco militares que nos governaram durante 21 anos.

Um grupo de intelectuais programou a manifestação e contou com o apoio de dois membros importantes do velho PCB, por sinal, dois intelectuais de peso. Prometeram reunir 5.000 operários e estudantes na porta do hotel para mostrar aos chanceleres das três Américas que vivíamos sob uma ditadura.

Na hora das horas, não apareceu um estudante, um operário, ninguém do partidão, que consideraria o movimento um desvio pequeno-burguês, nocivo à causa da liberdade. Apareceram apenas oito gatos pingados, com faixas improvisadas pedindo o fim da ditadura e da violência. No momento em que o marechal chegou, a turma se aproximou do carro presidencial e começou a vaiá-lo, alguns chegaram a xingá-lo com os palavrões que costumam ser usados nessas horas de cólera cívica.

Não durou nem um minuto. A turma da segurança imobilizou aqueles que alguns jornais da época chamaram de "cafajestes". Vieram os camburões, foram levados para o quartel da PE, na rua Barão de Mesquita, que se tornaria famoso pelas torturas ali praticadas. Passaram quase um mês em cana. O consolo deles foi a chegada de um jornal espanhol que conseguiu ultrapassar a barreira da incomunicabilidade. Foi lido avidamente pelos oito, que já desconfiavam da inutilidade daquele gesto "pequeno burguês". A manchete do jornal foi um consolo para todos: "Patearan el mariscal!"

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