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Rio de Janeiro – Foi há alguns anos, escrevi uma crônica mais ou menos severa, criticando não me lembro qual posição ou atitude do senador Antônio Carlos Magalhães. No mesmo dia, recebi dele um fax também severo, aliás severíssimo, justificando-se e, ao mesmo tempo, explicando à maneira dele a minha crítica.

Dias antes, eu escrevera um texto lamentando a morte de Mila, uma setter irlandesa que funcionava como um fio-terra para minhas desditas – que são muitas. ACM atribuiu minha crônica à falta que Mila me fazia, dizendo textualmente que se ela estivesse ao meu lado, não permitiria que eu fosse tão injusto para com ele.

Eu já ouvira falar no Toninho Malvadeza e no Toninho Ternura, mas nunca experimentara um e outro atributo de sua forte personalidade. Pouco depois, ele perdeu o filho e aí fui eu que lhe mandei um e-mail de solidariedade. Nunca o vira pessoalmente. No dia seguinte, um sábado, não sei como, ele descolou o telefone de minha casa, quase não falou, apenas chorou o tempo todo. Confesso que fiquei abafado, sem saber manter o diálogo que não houve.

Passa o tempo e numa cerimônia em São Paulo sou apresentado a ele. Poucas palavras, o abraço dele foi mais do que um abraço, mas um afago. Abraço e afago que se repetiram na noite de posse de Zélia Gattai na Academia Brasileira de Letra. Eu já estava indo embora quando alguém saiu de seu lugar para vir ao meu encontro. "Você não vai sem o meu abraço, eu não esqueço o Luís Eduardo, você não esquece a Mila."

Outros acadêmicos ouviram o comentário e não entenderam, pensaram que Mila fosse minha filha. Bolas, depois disso tudo, mandei minha isenção às favas, declarei-me suspeito para falar de ACM. Ele se mostrara apenas em sua versão de Toninho Ternura.

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