Rio de Janeiro – Uma das manias que Lula cultiva com mais entusiasmo é a do auto-elogio. E, quando deixa de elogiar-se a si mesmo e passa a elogiar as suas realizações, lembra os governos militares, que eram pródigos em dividir a História do Brasil em antes deles e depois deles.

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Já lembrei a última prestação de contas do presidente Figueiredo, em que ele arrolou como obras suas até mesmo o Pão de Açúcar e o Corcovado. Lula ainda chegará lá, mas, na semana passada, chegou à Muralha da China.

Explico: durante o governo Médici, iniciaram uma estrada monumental, a Transamazônica. A publicidade oficial dizia que seria a maior obra da Era Moderna, tal como a Muralha da China na Antiguidade. Pela sua extensão e largura, a Transamazônica seria vista da Lua.

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Semana passada, falando do gasoduto que seu governo está transando com países vizinhos, Lula disse que será uma obra igual a da Muralha da China, certamente com a vantagem de ser vista da Lua, embora, creia eu, grande parte dela seja subterrânea. Mas nunca se sabe.

O açodamento com que ele aceitou a soberania da Bolívia em cima de uma empresa brasileira foi também exagerado. Evidente que não é caso de o Brasil imitar países colonialistas e invadir a Bolívia para garantir investimentos ameaçados pela febre nacionalista de Morales. Mas rasgar contratos internacionais, trair compromissos aceitos de parte a parte, dá direito ao prejudicado pelo menos à estranheza, à busca de uma negociação, e não ao comodismo de aceitar a soberania alheia como referência maior da questão. A Bolívia é pobre (o Brasil também é pobre), merece ser auxiliada, mas não à custa dos interesses de uma empresa de mercado, como a Petrobras.

Lula deveria chamar Delúbio Soares e Dirceu para montarem um esquema igual ao do valerioduto para ajudar os bolivianos.