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Rio de Janeiro – Joel Magno Ribeiro Silveira, mais conhecido pelo codinome de Joel Silveira, ganhou o Prêmio Machado de Assis da Academia Brasileira de Letras, a mais consagrada láurea da literatura brasileira.

Sua obra inclui vários gêneros, da reportagem ao conto e à novela. Mestre de várias gerações, ele é modelo para os jornalistas, que nele encontram uma referência de dignidade profissional e de eficiente manejo da técnica literária, seja ela aplicada à reportagem ou à ficção.

Ao lado de tudo isso, Joel é um ser humano rico e saboroso. Quando completou 60 anos, escrevi-lhe uma sonata que ele aproveitou como prefácio da primeira edição de um de seus livros, "Tempo de Contar". Lembrei um fim de noite, em seu apartamento, ao lado de sua mulher, Iracema, famosa fazedora de pastéis de camarão. Eu havia chegado de viagem, trazia-lhe discos antigos de música italiana, canções do tempo da guerra que ele havia coberto, em gravações originais, catimbadas em sebos de Roma.

Joel bebeu algumas doses de uísque, equilibrou o copo na cabeça e começou a dançar de olhos fechados: "Sul’Arno d’argento specchia il firmamento".

Seu colega na cobertura da FEB, Egydio Squeff, havia morrido um mês antes. No meio da sala, dançando com o copo na cabeça, Joel pedia a Iracema: "Telefona para o Squeff... ele não aparece mais... arranjei um disco do "Dorme Firenze dorme" com o Alberto Rabagliatti... telefona Iracema... pede para ele vir depressa... chama o Nássara também, estou com saudades...".

Deixei-o dormindo no sofá, sonhando com o Arno prateado pela lua e esperando pelos amigos que não chegavam mais.

(Esta crônica é de agosto de 1998. Foi publicada na "Manchete", revista na qual trabalhamos alguns anos).

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