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No Evangelho de hoje, Jesus, ao despedir-se dos seus discípulos ao deixar este mundo, promete não deixá-los sós, sem proteção e sem guia. Diz que pedirá ao Pai para lhes enviar o seu Espírito que permanecerá para sempre com eles. O Espírito recebe dois nomes: é chamado de Paráclito e Espírito da Verdade. Trata-se das duas funções.

O primeiro título, Paráclito, é tomado da linguagem dos tribunais e quer dizer: aquele que é chamado ao lado. Quem era ele? Antigamente não havia a instituição dos advogados; todo acusado tinha de se defender sozinho, procurando levar testemunhas que o isentassem das acusações. Acontecia, às vezes, que alguém, embora não sendo culpado, não conseguisse provar a própria inocência, ou então, embora tendo cometido o crime, merecesse o perdão. Para ele restava uma última esperança: que no meio da assembleia houvesse um homem, estimado por todos por sua lealdade e integridade, e que este homem irrepreensível, sem pronunciar palavra alguma, se levantasse e fosse se colocar ao lado dele. Esse gesto equivalia a uma absolvição: ninguém mais ousava pedir a condenação do réu. Este "defensor" era chamado de paráclito, isso é, "aquele que é chamado ao lado de quem se encontra em dificuldades".

O sentido desse primeiro título atribuído ao Espírito é, portanto, o de protetor dos "discípulos" que estão atravessando momentos difíceis. Os cristãos que acreditam na presença do Espírito não podem perder a serenidade, a paz do coração, a alegria e a esperança. Na Igreja não é lugar para gente triste, cansada, medrosa e desanimada.

A comunidade não se deixa abater pela perseguição desencadeada pelos seus inimigos e nem pelas dificuldades que surgem internamente. O discípulo não se abate, nem quando deve se admitir, com singeleza, que nele existem ainda muitos pecados, muitas fraquezas, muitas más inclinações. Quem acredita na força do Paráclito não teme sair derrotado nem nas situações mais difíceis e intrincadas.

O segundo título é o Espírito da Verdade. Significa duas coisas: a "verdade", para o evangelista João, indica o próprio Deus que se manifesta em Jesus. Introduzir na verdade, portanto, quer dizer agir no coração de cada ser humano e induzi-lo, desta forma a aderir livremente à revelação de Deus. Isso é muito confortante para nós. É difícil de fato pensar que o impulso deste Espírito não consiga abrir brechas até nos corações mais empedernidos.

O segundo significado diz respeito às novidades introduzidas pelo Espírito. Há muitas coisas que Jesus não revelou explicitamente, porque os discípulos não estavam em condições de entendê-las. Ele estava consciente que, ao longo dos séculos, teriam se criado muitas situações, muitos problemas, muitos questionamentos novos. Onde se poderiam encontrar as respostas autênticas, de conformidade com o pensamento do Mestre? É nesse nível que é requerida a atuação do Espírito. Ele tem a missão de introduzir o discípulo na descoberta de toda a verdade. Nada dirá de novo ou contra Jesus, ajudará somente a descobrir até o fundo, até as últimas consequências, a mensagem de Cristo.

Dom Moacyr José Vitti, arcebispo metropolitano de Curitiba.

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