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São poucos os que vão ser salvos? Muitos cristãos vivem essa pergunta angustiante, inculcada às vezes por pregadores insensatos. Segundo Jesus, no evangelho, a salvação é para todos, vindo de todos os lados, dos quatro ventos, de perto e de longe. Só não é para aqueles que se fecham na sua autossuficiência e nos seus presumidos privilégios. A palavra de Deus na primeira leitura de hoje lembra que Deus não apenas quis salvar o povo de Israel do exílio babilônico, como também o encarregou de abrir o Templo e a Aliança a todas as nações.

Quando Deus concede um privilégio, como foi a salvação de Israel do cativeiro babilônico, este privilégio se torna responsabilidade para com os outros. Deus rejeita a autossuficiência. Existem muitos cristãos instalados, que se sentem seguros fazendo formalmente tudo o que lhe foi prescrito, mas não assumem com o coração aquilo que Jesus deseja que façam, sobretudo o amor incansável ao próximo.

Eles ficarão de fora, se não se converterem, enquanto outros, considerados pagãos, vão encontrar lugar no Reino. Aqueles que só servem a Deus com os lábios e não com o coração e de verdade, o Senhor não os reconhecerá. Na América Latina, hoje, os que foram sempre os donos da Igreja estão se enterrando no materialismo, e os pobres – há séculos marginalizados da vida eclesial ou relegados a uma posição inferior – estão entrando nas comunidades e ocupando o lugar dos antigos donos.

As catedrais dos centros se esvaziam e as capelas da periferia se enchem. Esvazia-se também o comportamento tradicional, enquanto se abre o espaço para um novo modo de ser cristão mais jovem e mais simples, mais participativo e menos fechado.

Contudo, esta chegada de um novo tipo de cristãos, aparentemente vindo de longe, não significa que esteja facilitando o ser cristão. Antes, pelo contrário. Exige desinstalação. Exige busca permanente daquilo que é realmente ser cristão: não apegar-se a fórmulas farisaicas, mas entregar-se a uma vida de doação e de amor, que sempre nos desinstala.

Então a questão não é se poucos ou muitos vão ser salvos... A questão é estarmos dispostos a entrar pela "porta estreita"  da desinstalação e do compromisso com os que sempre foram relegados. A questão é se abrimos amplamente a porta de nosso coração, para que a porta estreita se torna ampla para nós também. Deus não fechou o número. A nós cabe nos incluirmos nele...

Dom Moacyr José Vitti CSS, arcebispo metroplitano.

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