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No evangelho de hoje, Lucas nos descreve a transfiguração de Jesus. Ele revela o motivo da ida de Jesus à montanha: Ele vai para orar. Em toda a sua vida Ele dedica muito tempo à oração. Durante a oração o rosto de Jesus muda de aspecto. Lucas não fala de transfiguração, mas de uma "mudança de aspecto". Este esplendor é sinal da glória que envolve a pessoa que está unida com Deus. Também o rosto de Moisés se tornava brilhante quando entrava em contato com o Senhor. Todo o encontro autêntico com Deus deixa marcas visíveis no rosto do homem.

Todos podem constatar que, após uma celebração da Palavra, vibrante e participada, todos voltam para suas casas mais felizes, mais serenos, mais ricos em bondade, mais sorridentes, mais dispostos à tolerância, mais compreensíveis, mais generosos. Também os nossos semblantes ficam resplandecentes nessas circunstâncias, não é verdade? A luz no rosto de Jesus indica que, durante a oração, Ele compreendeu o projeto do pai e o assumiu: entendeu que o seu sacrifício não teria se concluído numa derrota, mas na glória da ressurreição. Não é fácil acreditar na revelação de Jesus e aceitar a sua proposta de vida. Não é fácil segui-lo no "êxodo".

Confiar nele é muito arriscado, porque é verdade que Ele promete uma glória futura, mas o que a pessoa humana experimenta aqui e agora é a renúncia, é o dom gratuito de si mesma. É verdade que a semente lançada à terra é destinada a produzir muito fruto, mas hoje o que a espera é a morte. Quando e como poderá ser assimilada esta "sabedoria de Deus" tão contrária à lógica humana? A resposta a essa pergunta nos é fornecida pela observação, aparentemente sem sentido, com a qual começa o evangelho de hoje.

O episódio da "transfiguração" é colocado por Lucas oito dias depois que Jesus fez o dramático anúncio da sua paixão, morte e ressurreição, oito dias depois que ele enunciou as condições para quem quer segui-lo: "Renegue-se a si mesmo, tome cada dia a sua cruz". O oitavo dia tem um sentido bem definido para os cristãos: é o dia seguinte ao do sábado, o dia do Senhor, no qual a comunidade se reúne para escutar a Palavra e para partir o pão.

Eis que então, o que Lucas quer dizer, quando se refere ao oitavo dia: todos os domingos os discípulos que se encontram para celebrar a Eucaristia, "sobem a montanha", contemplam o rosto do Senhor transfigurado, isto é, ressuscitado, verificam na fé que o seu "êxodo" não está ainda concluído com a morte e ouvem novamente a voz vinda do céu que lhes dirige este convite: "Escutai-o" Pedro, Tiago e João, apósdescer da montanha, "naqueles dias calaram-se e a ninguém disseram coisa alguma do que tinham visto". Não podiam falar daquilo que eles ainda não tinham entendido: o êxodo de Jesus ainda não se completara. Nós, hoje, saindo de nossas Igrejas, podemos, ao invés, anunciar o que a fé nos permitiu descobrir: quem doa vida por amor, entra na glória de Deus.

Dom Moacyr José Vitti CSS arcebispo metropolitano

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