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No evangelho deste domingo, Jesus narra uma parábola. Naquele tempo, os povoados tinham o seu curral comunitário. O curral tinha um portão, por onde os pastores entravam para chamar as suas ovelhas que conheciam a voz do pastor, e por onde as ovelhas passavam para ir pastar. Mas também apareciam sujeitos que abriam uma brecha na cerca em vez de entrar pela porta: os ladrões. Até aí a parábola. Depois, Jesus explica: Ele mesmo é essa porta por onde pastores e ovelhas devem passar. Pastor que não passa por Ele, não serve para os fiéis. E também os fiéis devem passar por Ele para encontrar a vida que procuram. Pastor mesmo é quem passa através de Jesus Cristo e faz o rebanho passar por Ele. Neste sentido, as pregações apostólicas apresentadas nas leituras de hoje são eminentemente pastorais. São obras de pastores que passaram por Cristo e nos conduzem a Ele e através dele ao Pai.

O sentido fundamental da pastoral é ir aos homens por Cristo e conduzi-los através dele ao verdadeiro bem. As maneiras podem ser muitas; antigamente, mais paternalista, talvez, hoje, mais participativa. Mas pode-se chamar de pastoral uma mera ação social ou política associada a setores da Igreja ou suas instituições? Isso ainda não é, de per si, pastoral. Para ser pastoral, a atuação precisa ser orientada pelo projeto de Cristo, que Ele nos revelou dando sua vida por nós. Nesta ótica o pastor deve ir aos fiéis, não aguardá-los de braços cruzados, através de Cristo, não através de mera cultura ou ideologia, para conduzi-los a Deus, e não apenas à instituição da Igreja, fazendo-os passar por Cristo, ou seja exigindo adesão à prática de Cristo.

E os fiéis devem discernir se seus pastores são " ladrões e assaltantes". O critério para discernir isso é este: se eles chegam através de Cristo e fazem passar os fiéis por Ele. Pelas palavras do Novo Testamento, parece que toda a salvação passa por Cristo. Mas isso deve ser entendido num sentido inclusivo, não exclusivo. Todo caminho que verdadeiramente conduz a Deus, em qualquer religião e na vida de " todos aqueles que procuram de coração sincero" (Concílio Vaticano II) passa de fato pela porta que é Jesus. Portanto, é isso que acentua o evangelho de João, escrito para pessoas que já aderiram à fé em Jesus: não precisa procurar a salvação fora deste caminho. Isso vale ser repetido para os cristãos de hoje.

Por outro lado, não é preciso que todos confessem Cristo explicitamente: basta que, nas opções da vida, eles optem pela prática que foi, de fato, a de Cristo. Agir como Cristo é salvação. Hoje há pessoas que se apresentam como pastores, falam até em nome de Cristo, mas depois defendem a violência, falam dos direitos do homem e ao mesmo tempo os violam, não respeitando a liberdade. Afirmam-se defensores da dignidade das pessoas, mas procuram somente vantagens econômicas, prestígio pessoal. Estes não são pastores, mas somente bandidos, e as ovelhas, por instinto, sentem medo, fogem deles porque não os conhecem.

Dom Moacyr José Vitti CSS é arcebispo metropolitano.

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