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Celebramos nesta semana o Dia da Pátria. É preciso resgatar a dignidade de nossa querida nação. Diante das reiteradas denúncias de corrupção, nas diferentes instâncias do Poder Público e face à indignação que elas levantam, nós, Bispos do Brasil, conclamamos o povo brasileiro a recuperar a esperança, concretizando-a em compromissos de participação política. A atual crise está levando o povo ao descrédito da ação política, em contraste com as expectativas de mudanças que haviam sido suscitadas nos últimos anos. É praticar a caridade, quando colocada a serviço da justiça e do bem comum. O uso de fontes escusas para o financiamento de campanhas eleitorais, o desvio de recursos públicos, a manipulação de empresas estatais em benefício de partidos, e tantas outras denúncias de corrupção que vem acontecendo de longa data, provocam em todos nós uma indignação ética. É preciso buscar as raízes históricas da perversa cultura de corrupção implantada no país.

Ela se nutre da impunidade, acobertada pela conivência, que se torna cumplicidade, incentivada por corporativismo históricos, habituados a usar em benefício de interesses particulares as estruturas do poder público. A indignação ética, que nasce da consciência da violação de valores fundamentais, resulta estéril caso não leve a um maior comprometimento pessoal com ações concretas, em favor do aprimoramento da ordem política. É indispensável contribuir para uma maior participação popular nas decisões sobre os rumos do nosso país, fortalecendo a prática da democracia, sem omitir-nos ou desistir. Para que esse compromisso ético com o Brasil seja efetivo, é preciso ter presente a corrupção pessoal e estrutural.

A corrupção pessoal deve ser investigada, punida inclusive com devolução dos recursos desviados, e também prevenida por meio de maior transparência na administração dos bens públicos. Sua irradiação requer um esforço de conversão pessoal e uma sólida consciência moral, cultivada por uma educação permanente para a cidadania, para a renovação do tecido social da nação. A corrupção estrutural convive com o atual sistema político-eleitoral brasileiro, e vem associada à estrutura econômica que acentua e legitima as desigualdades. É urgente uma radical reforma deste sistema. Este é o clamor mais evidente que emerge em meio a esta crise.

Não se pode desperdiçar este momento para realizar uma profunda reforma política, como oportunidade de assegurar a fidelidade partidária; aprimorar os institutos da democracia representativa e favorecer os institutos de democracia direta, participativa e deliberativa, por meio de referendos, plebiscitos e conselhos, em todos os níveis de decisão, conforme o art. 14 da Constituição Federal. Urge assegurar a lisura nas campanhas eleitorais pela aplicação mais rápida e severa da lei 9840 contra a corrupção eleitoral.

Reconhecemos a importância da imprensa para divulgar os fatos, e colocá-los à disposição da cidadania para o aprimoramento da consciência política dos cidadãos. É importante, no entanto, manter o discernimento, a busca incansável da verdade, sem hipocrisias e sem pré-julgamentos para formarmos uma opinião pública esclarecida e operante. Reafirmamos nossa confiança no povo brasileiro, cuja cultura, apesar de alguns aspectos ambíguos, guarda valores de grande significação ética, como a solidariedade, a cordialidade e o senso de justiça. O povo já deu, ao longo da história, muitas provas de energia e capacidade de superar crises. Alicerçados nos valores do Evangelho, proclamamos com todo vigor: não vamos desistir do projeto de construir uma Nação justa, pacífica e democrática.

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