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"Se alguém me ama guardará a minha palavra e meu Pai o amará e nós viremos a ele e nele faremos morada." O que Jesus quer dizer com isso? Para conseguir entender, devemos lembrar outra frase pronunciada por Ele durante a última ceia. Respondendo a Felipe, disse: "O Pai, que permanece em mim, é que realiza as suas próprias obras. Eu estou no Pai e o Pai em mim. Crede-o ao menos por causa destas obras" (Jo 14,10-11). Aqui Jesus aduz como prova da unidade com o Pai as obras que ele realiza. Quais são elas? Não são os milagres, como imediatamente somos levados a pensar.

Ele nunca apresenta os prodígios para provar que é "um" com o Pai; refere-se, ao invés, a tudo aquilo que Ele faz. As suas intervenções só e sempre se verificam em benefício do homem, têm como finalidade libertá-lo de todas as formas de escravidão às quais está sujeito: trata-se das correntes dos pecados, da doença, da superstição, da segregação religiosa e social. Ora, esta obra de libertação é a mesma que, de acordo com o Antigo Testamento, o Senhor realizou em favor de seu povo.

Israel conheceu o seu Deus justamente como o protetor dos últimos, dos mais fracos, dos estrangeiros, dos órfãos, das viúvas. Se Jesus cumpre estas mesmas obras, significa que Deus está nele e Ele em Deus. O que quer dizer então que Jesus e o Pai restabelecem sua morada em nós? Quer dizer que nós, depois de termos escutado a palavra do Evangelho, recebemos a vida de Deus e nos tornamos capazes de realizar as mesmas obras de Jesus e do Pai: nós também nos tornamos libertadores dos homens.

Não é difícil saber se numa pessoa está presente Deus. Procuremos saber, por exemplo, o que dizem de nós os colegas de trabalho e de escola, a mulher, os filhos, os vizinhos, os irmãos da comunidade. A quem eles identificam nas nossas ações: Jesus e o Pai ou o diabo? Na última parte do evangelho de hoje encontramos a promessa da paz: "Deixo-vos a paz, dou-vos a minha paz. Não vo-la dou como o mundo a dá". Quando Jesus pronuncia essas palavras, o Império Romano desfruta de um período de paz: não há guerras, todos os povos são vassalos de Roma.

Não é, porém, esta a paz que ele promete. Esta é a paz do mundo, baseada na opressão, na violência, na injustiça. Em nossos dias, reina a paz de Cristo? Certamente não reina naquelas sociedades nas quais está consolidada em leis de exploração dos ricos sobre os pobres, dos mais fortes sobre os fracos, dos mais vivos e inteligentes sobre os menos favorecidos.

A paz prometida por Jesus viceja onde se estabelecem entre os homens relações novas, onde a vontade de competir, de dominar, de ocupar os primeiros lugares cede lugar ao serviço e ao amor desinteressado pelos últimos. Sejamos francos: podemos afirmar que pelo menos nas nossas comunidades cristãs reina esta Paz?

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Dom Moacyr José Vitti CSS, arcebispo metropolitano.

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