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"Ouvistes o que foi dito aos antigos: olho por olho, dente por dente". Com essa citação do Antigo Tes­­ta­­mento (Ex 21,23-25), Jesus introduz o quinto exemplo da sua nova interpretação da Lei. "Olho por olho, dente por dente": uma fórmula que se tornou proverbial. Quando alguém pratica contra nós uma grosseria e nós lhe pagamos com a mesma moeda, para justificar-nos, di­­zemos:"Olho por olho, dente por dente"! A expressão já assumiu um sentido de: falta de compaixão, recusa a usar de clemência em relação ao culpado. Esse, porém, não era o sentido original. Façamos uma consideração prévia, esta norma nunca foi aplicada de forma literal; nunca foram arrancados os olhos de ninguém, ou tirados os dentes, como castigo.

Esta lei tinha sido imposta para defender o réu das vinganças sem limites, das represálias brutais, dos excessos em punições. Nos tempos antigos, quem conseguisse capturar o responsável por alguma maldade cometida, submetia-o a punições tão severas tão cruéis não só a ponto de dissuadi-lo, como também dissuadir os demais de cometer erros semelhantes. Quem fosse pego em flagrante tinha de pagar não pelo seu crime, como também por todos os outros crimes cujos responsáveis não tinham sido descobertos. A vingança era um método antiquado e desumano de praticar a justiça, mas servia para manter um pouco de ordem naquela sociedade.

Neste contexto social é introduzida a nova norma, mais justa e mais sábia: "Olho por olho..." quer dizer: não é justo castigar uma pessoa também pelas culpas dos outros. Quem roubou um saco de trigo deve ser castigado por aquele saco de trigo, não por todos os furtos que aconteceram no povoado. Não se pode cortar uma orelha de quem roubou uma galinha, porque, nesse caso, não haveria proporção alguma entre o mal cometido e o castigo. Os chamados "exemplares" e as represálias são uma forma de vingança.

A essa altura cabe fazer esta pergunta: E os homens de hoje já conseguiram praticar esta ótima elementar de justiça? Não estarão, por acaso, ainda, no nível da vingança, da qual se vangloriava Lamec, o filho de Caim, que dizia: "Eu mato um homem por um arranhão, eu mato uma criança que me pisa no pé. Caim se vingava sete vezes, Lamec setenta vezes sete" (Gên 4,23-24). Jesus não afirma que a norma "olho por olho" é inválida. Ele, porém, quer que se avance além dessa justiça rigorosa e enfrenta o problema de uma forma totalmente diferente.

"Se alguém te bate na face direita..." Quando se dá um tapa em alguém, em que lado se bate? No esquerdo. Por que Jesus fala do direito? Porque a violência é maior: trata-se da mão virada, uma ofensa muito grave, punida em Israel com um castigo correspondente a um mês ou mais de um mês de salário. Ao seu discípulo Jesus não recomenda ser melhor ou mais suave nas exigências de reparação. Exige de uma postura radicalmente nova: "oferece-lhe também o outro lado da face".

Dom Moacyr José Vitti CSS, arcebispo metropolitano.

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