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Seria bom se me deixassem fazer a coluna da semana da água com esta única frase: "Na semana em que o mundo celebra a água, os bebês de uma das mais avançadas cidades do planeta (Tóquio) estão proibidos de beber água de torneira".

Mas como me pagam para destrinchar a coisa para você, vou então fazer por merecer meu salário.

A notícia tem aspectos positivos, apesar do choque inicial. As pessoas bebem água de torneira no país com maior expectativa de vida do planeta, e até desenvolveram padrões complexos para isso, com níveis específicos para diferentes idades. Esse mesmo país tem instituições ambientais sólidas para garantir que os fatos, mesmo os muito desagradáveis, sejam comunicados à população.

Dito isso, o que resta é o mais puro pessimismo quanto à capacidade de gerirmos instalações de altíssimo risco. A engenharia com suas análises de risco e custo foram criadas para lidar com engenhos de açúcar (por isso o nome) e teares. Essas são máquinas que, tudo dando absolutamente errado, implicam não mais que perda total e morte dos operadores. A engenharia não foi feita pensando em máquinas que podem exterminar a humanidade. Que sistemas de segurança seriam necessários para uma máquina assim? Se nem no Japão a segurança não foi suficiente, onde então será?

A situação do Japão mostra o quanto estamos brincando com coisas perigosas demais para nossa maturidade. A ênfase no aumento da oferta de energia é um conluio entre políticos que gostam de inaugurar, empreiteiros que gostam de lucrar e a massa infantilizada que paga por isso, vendendo seu futuro com desconto de agiota. A única solução é a redução do consumo. Não há estrutura de segurança suficiente para evitar Fukushima, Golfo do México, Three Mile Island e Bhopal.

Mudando para tecnologias mais simples, nas quais as notícias são melhores, há boas novas no tratamento de esgotos.

Em Botucatu irrigaram pés de alface com esgoto cru e só quando o gotejamento foi feito a menos de 15 centímetros houve contaminação da folha. Nos outros casos, esgoto foi usado no lugar de água, sem problemas. Conclusão: com alguns cuidados básicos podemos empregar águas poluídas na irrigação de produtos agrícolas. Ainda que isso envolva um risco químico, é importante por mostrar que há diferentes águas e que nem todas precisam estar em altíssimo padrão de potabilidade.

Em Piracicaba estão irrigando cana com esgoto cru. A produção é alta, a planta absorve a água, a carga orgânica aduba o solo, é tudo de bom. Esse é um caso mais promissor pela cana não envolver consumo humano in natura. Não há mais razão para as cidades que já estão imersas em cana estarem também imersas em dejetos humanos.

Esgoto é ruim para nós, mas é muito bom para as plantas. E as plantas são boas para nós. Com alguma cabeça, esgoto pode ser bom para nós também.

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