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Uma área em desertificação se parece com o inadimplente. Está ruim e com o passar do tempo vai ficando cada vez pior. De acordo com dados do Instituto Nacional do Semiárido (Insa) divulgados pelo site Ecodebate, aproximadamente 1,3 milhão de quilômetros quadrados do nosso território está sob risco de desertificação. Em áreas muito secas, uma soma de salinização com sobreexploração dos solos faz que cada vez menos matéria orgânica seja depositada nesses solos. Daí é que se entra em um ciclo vicioso, com cada vez menos fertilidade levando a menos desenvolvimento vegetal e fertilidade ainda menor.

Mais que um problema ambiental, este é também um problema social, porque as áreas em desertificação sempre foram marginais. O agricultor que tem suas áreas desertificadas não anda de Hilux, anda para trás.

Desertificação não é um fe­­nômeno recente. A Meso­­po­­tâmia foi o berço da humanidade, também porque ali se produzia trigo em extensos campos nativos. Com o aumento da população, apareceu a ideia de trazer água dos rios Tigre e Eufrates para ampliar as áreas de trigo. Precisa-se de muito cuidado para irrigar no semiárido, porque, com a altíssima evaporação, o sal do solo se concentra na superfície.

Assim como o inadimplente, a solução é difícil, mas possível. A restauração destas áreas é cara e envolve "lavar" o solo com água, o que em uma região semiárida é mais caro que a própria terra. É por isso que as áreas desertificadas só aumentam. Elas só serão restauradas no dia em que o molho for mais barato que o peixe.

A desertificação está aqui no Sul também. Além das grandes arenizações de Alegrete, há a aplicação de potássio em grandes quantidades em solos agrícolas (o potássio, além de ser um nutriente para a planta, é também um sal). Com excesso de potássio, o solo se desagrega, deixa de capilarizar a água mais profunda e seca, quando a temperatura sobe aos céus. O professor Fioretto, meu colega no Departamento de Agronomia, faz milhares de análises de solo por mês e diz que há muitas áreas sofrendo com este problema.

Não é uma desertificação em grande escala, que chega a atingir o clima, mas é o suficiente para reduzir a produtividade primária e colocar áreas agrícolas no tal ciclo vicioso. E, por falar em clima, deixarei para vocês imaginarem qual a perspectiva de todas estas áreas em desertificação "auxiliadas" pelo aumento da temperatura global.

Em todos esses casos, a adição de carbono, especialmente na forma de húmus, é um santo remédio, mas não sairemos do lugar se ficarmos todos só cobrando. É necessário dar o exemplo antes. Já dei meu bom exemplo hoje...

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