A grande notícia am­­biental da semana é o leilão da Usina de Belo Monte, mas não tenho nada a adicionar aos milhões de caracteres já publicados pelos jornais. Cons­trutora-alimenta-caixa2-PT-contrata-obra. Troque PT em 2010 por PSDB em 1997 conforme o time de sua preferência. Não se fala em conservação e uso racional de energia porque não geram inaugurações ou suborno.

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Fico sabendo pelo jornal da USP de Ribeirão Preto que só ela consumiu 2,6 milhões de folhas de papel nos últimos quatro anos para imprimir as sagradas e múltiplas cópias de tese de mestrado e doutorado.

Teses são escritas em um só lado da folha, espaço duplo, margens e rodapé largos o suficiente para dar meia volta em carreta e letras do tamanho de grãos de feijão branco. São seis cópias para mestrado e nove para doutorado. Orientador ganha um exemplar. O programa ganha um exemplar. Cada membro da banca ganha um exemplar. A biblioteca ganha um exemplar. A Capes ganha um exemplar. Se a família do aluno é grande, então complica mais. O Tio Malaquias de Ipauçu vai ganhar outra cópia e a Vó Joaquina, também.

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Essas cópias nunca são usadas. Orientadores têm em sua sala uma prateleira com as teses orientadas, talvez porque acreditem em alguma unidade métrica de competência. Poderiam ao menos virar a coisa de cabeça para baixo e usar como caderno, mas talvez fosse desrespeitoso.

Quando alguém precisa ler uma tese simplesmente busca na internet. Meus alunos preferem isso a ir à biblioteca porque um arquivo de tese não pesa e dá para fazer buscas.

Também as revistas científicas, que dependem de submeter versões de manuscritos para muitos revisores, já usam sites onde o revisor entra, lê e julga o artigo sem correio e sem papel, muito mais rápido e com menor impacto.

Mesmo sendo ínfimo o impacto do consumo de papel para teses no mundo, espera-se da universidade o exemplo, o uso da tecnologia limpa e mais moderna.

Algumas universidades respondem a essa demanda permitindo a impressão nos dois lados da folha. Outras recomendam uso de papel reciclável, que somente é desejável quando todas as alternativas de redução de consumo já se extinguiram. Ou seja: a própria universidade não segue o que seus cursos de gestão ambiental pregam. Como vamos propor caminhos para um planeta mais limpo sem antes dar o exemplo? Os porcos capitalistas devem gastar com tecnologias limpas, mas nós, os intelectuais santos, não precisamos nos preocupar?

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O único impacto da tese digital seria aumentar o consumo de energia elétrica. Preci­­saríamos de uma nova usina hidrelétrica para isso? Na verdade, esta gente que faz teses e revisa artigos já passa o dia com o computador ligado. Teses digitais não aumentariam nem o consumo de energia.

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