Há 25 anos eu era maluco de querer viver à custa de despoluir o mundo, plantar árvores e coisas do gênero, mas naquela época isso era no máximo uma brincadeira de fim de semana. Agora parece que todos não fazem outra coisa. Na falta de argumento melhor, a pessoa se diz um grande ambientalista porque sua tia tem uma horta cercada de garrafas PET. Infelizmente, esse caso não saiu da minha imaginação.

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As empresas não estão muito longe disso, afinal são feitas e cuidadas por pessoas. Ontem vi um saquinho de papel "feito com fibras 100% recicláveis", da mesma forma que todos que compram cartões de loteria são "milionariáveis". Qualquer matéria-prima é reciclável, mas precisa colocar a cabeça para funcionar.

A última moda agora é comprar uma ONG para dizer que aquele produto é "legal". ONGs, que também são feitas e cuidadas por pessoas, estão à venda, algumas são até uma barganha. Todas, até a mais respeitável, tem custos fixos e estão dispostas a conversar com o diabo para dar conta deles. E o diabo pode propor, por exemplo, imprimir algo como a "ONG Paz e Amor certifica que somos uma empresa amiga do verde".

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Desconfie principalmente do palavrório genérico. Caçadores de marcianos são amigos de verdinhos, investidores gostam das notas verdes e os fãs da mulher melancia também são amigos do verde. Procure por termos como: "Este produto é feito com X% de material reciclado", ou, ainda melhor, reutilizado.

Greenwashing é o jargão internacional para esta conversa desprovida de conteúdo, e não é novo. A Vale já fazia isso há décadas, mas com o aumento do interesse de seus compradores sobre a origem do produto, migraram da conversa para a realidade em vários aspectos, ainda que não em todos. Por isso, é um tanto infantil, mas ainda assim positivo, que as misses agora tenham de abraçar uma causa ambiental, e não falo isso pelos vários colegas animados com a possibilidade de trocarem abraços das árvores pelos braços de uma miss. Dando o devido tempo de amadurecimento, o discurso infantil torna-se adulto e verdadeiro.

O verdadeiro problema que se esconde atrás do marketing ambiental é que, se ele for realmente verdadeiro, terá de dizer que a opção mais ambiental de todas é não comprar. Reciclar e reutilizar são somente alternativas para quando não for possível reduzir. Ainda melhor que comprar o produto reciclado, certificado e abençoado é reduzir suas necessidades de modo a não comprá-lo.

Da próxima vez que for ao supermercado, leia com atenção e desconfie de alguém cuja melhor história para contar é "Sou um ‘milionariável’".

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