Já ouvi muitas vezes, durante conversas sobre política, que o Brasil não tem jeito, que não adianta mudar o presidente, que uma pessoa só não consegue fazer nada porque o sistema inteiro está podre etc. É claro que essas afirmações têm seus componentes verdadeiros, dado que nossa estrutura político-administrativa estimula e facilita práticas funestas como a corrupção, as trocas de favores entre os poderes e o aparelhamento da máquina pública. Mas não se pode minimizar a importância da Presidência da República nas decisões que afetam diretamente todos os cidadãos, e é justamente neste, que é o mais alto de todos os cargos eletivos brasileiros, que a força (ou fraqueza) de um indivíduo é aumentada exponencialmente.

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Nossos vizinhos de continente, os argentinos, completaram um mês de governo com seu novo presidente, Mauricio Macri. Um alto membro do Banco Central argentino deu uma declaração que resume bem o nível de efetividade do novo presidente. Diz ele: “Não consigo crer: apertamos um botão e começamos a girar dinheiro. Nos últimos quatro anos dediquei uns 30% de meu tempo e energia pedindo autorizações para fazer isso; agora posso voltar a pensar em como ajudar os negócios do país a crescer”.

Não se pode minimizar a importância da Presidência da República nas decisões que afetam diretamente todos os cidadãos

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O “botão” a que ele se refere foi a decisão de Macri de abolir o cepo cambiário, que era o controle do governo sobre o mercado de dólares implementado por Cristina Kirchner em 2011, uma esquisitice econômica que infernizou a vida dos argentinos por quatro anos.

Outras medidas e decisões presidenciais tomadas no primeiro mês de governo foram: supressão dos impostos e cotas de exportação (os impostos chegavam a 30% do valor exportado e as cotas fixavam limites de venda de produtos agrícolas ao exterior); demissão de 10 mil funcionários públicos contratados irregularmente por Kirchner, mesmo sob uma legislação que torna a demissão quase impossível no funcionalismo público; terminação do tratado econômico com o Irã, decisão que deve levar à reabertura de uma denúncia judicial contra Cristina Kirchner, acusada de ter conseguido o referido tratado em troca de favorecer cinco agentes iranianos que participaram de um atentado a uma organização judaica em Buenos Aires; pedido de suspensão da Venezuela do Mercosul, que depois foi reconsiderado em virtude da vitória oposicionista nas eleições para o parlamento venezuelano; descredenciamento de médicos cubanos – participantes de um programa similar ao Mais Médicos – para “não financiar ditaduras”; derrubada, por decreto, da lei dos meios audiovisuais, uma das peças legislativas mais antidemocráticas do governo anterior.

Com essas e outras decisões, e com a escolha de uma equipe economicamente liberal, Mauricio Macri mostra que tem uma compreensão muito clara do poder da presidência e do poder de um indivíduo. A política argentina também é corrupta e cheia de conchavos; os últimos 12 anos dos argentinos também foram marcados pelo governo de uma única dupla; o alinhamento do país também era bolivariano; e a crise econômica também era uma realidade. É claro que todos os problemas não serão resolvidos desta forma, com medidas rápidas e pontuais. Mas esse tipo de decisão mostra o tipo de gestão que o presidente pretende fazer. Na era da globalização, em que meras percepções causam o movimento de volumes enormes de dinheiro, Macri coloca a Argentina em posição de receber novamente a confiança e os recursos dos investidores estrangeiros, e prepara o caminho para uma recuperação econômica. Além disso, mostra respeito à liberdade de expressão e desprezo por tiranias e ditaduras, sensatez elementar que não tem feito parte do governo brasileiro.

Avante, hermanos! Invejinha de vocês.

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