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 | Ilustração: Felipe Lima
| Foto: Ilustração: Felipe Lima

Os brasileiros fogem do rótulo como se fosse maldição. Na vida particular, "prafrentex" é a moda. Na república nem sequer há partido que se assuma conservador; todos são revolucionários. Vanguarda sem retaguarda. As coisas mudam e ficam na mesma. Imobilismo – não conservadorismo.

Aragem de inteligência que alivia o mormaço da ignorância, o livreto de João Pereira Coutinho – As ideias conservadoras explicadas a revolucionários e reacionários – versa sobre o conservadorismo político, deixando de lado aspectos de quadradismo na vida privada porque a posição política conservadora tem semelhança com a postura pessoal conservadora no que atine à prudência decisória e humildade intelectual, porém, não são unha e carne.

Ao recusar projeto utópico de futuro (revolucionário) ou de passado (reacionário), o conservadorismo se afasta de ambos. Romantizar o futuro ou o passado é a nota comum aos utópicos. O reacionário é o revolucionário do avesso. O conservador, diz Coutinho, recusa fantasias radicais de reconstruir ou construir sociedades nas quais a liberdade, igualdade e fraternidade sejam maximizadas, como se as pessoas fossem perfeitas ou perfectibilizáveis, ainda que à força. O primevo homem bom ou o novo homem socialista são forjados com sangue e depois que a opressão cessa, a natureza humana ressurge inalterada. O conservador, ao admitir a falibilidade de todos, inclusive a sua, rejeita a brutalidade como meio de ação política.

Os militantes das quimeras fazem tábula rasa da complexidade da existência humana e, diante das dificuldades intrínsecas da política, optam pela violência simplificadora. Para Coutinho, isso denota incapacidade de compreender e reformar a sociedade real, verdadeira, decidindo por atalhos de destruição e recriação totais. O conservador prefere a via laboriosa da reforma de instituições provectas, opção que exige sabedoria e paciência.

A complexidade da trama social obsta a certeza sobre o resultado das decisões políticas. Há contingências imprevistas ou imprevisíveis que causam variações infinitas nas decorrências da ação. Por isso as utopias degeneram em distopias. Na política, a ordem dos fatores altera o produto e não há exatidão matemática.

O conservadorismo reconhece que houve, há e haverá milhões de inteligências pensando de modo convergente e divergente. A diversidade de pensamento capitaliza intelecção para decidir melhor o rumo da sociedade. Muitas cabeças erram menos que uma. As tradições são legado de erros e acertos dos ancestrais. Conhecê-las, decifrá-las, é deferência à inteligência pretérita e lição aos pósteros para que não queiram reinventar a roda.

Estado de espírito ou ­ideologia? Coutinho assevera que o conservadorismo é ideologia posicional e reativa, não ideacional e ativa: "Perante ameaça concreta aos fundamentos institucionais da sociedade (...) a ideologia conservadora desperta, reage e se define". O conservadorismo está mais para método do que para projeto. Parece inadequado afirmá-lo como ideologia, pois não há utopia conservadora!

Para o conservador há devir; inexiste evoluir para mundo novo ou regredir para mundo antigo. Tópico e realista, não utópico e idealista. Zetético, não dogmático.

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