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 | Felipe Lima
| Foto: Felipe Lima

A Playboy deixará de publicar nus. Em 1975 as pessoas olhavam a revistas penduradas nas bancas da Rua das Flores e murmuravam “onde esse mundo vai parar”; em 2015 saudosos balbuciam as mesmas palavras. As tiragens de mais de 1 milhão caíram para menos de 100 mil, suplantadas pelo nu internético.

Ensimesmado, me pus a pensar se o governo vai engendrar plano para salvar essa atividade econômica da débâcle, preservando emprego das “coelhinhas”, dos gráficos, dos operários da celulose, tinta, motoristas de caminhão que faziam a distribuição etc. Afinal, quanto desemprego porque a Hortência não vai mais bater bolão na Playboy!

Coveiros estão desaparecendo em razão do aumento das cremações. Surge a indústria de joias feitas com as cinzas do finado. Lindo o cristal do teu anel, é Swarowski? Não, é o Souza, meu marido.

Referência recorrente entre os liberais, o dictum schumpeteriano é odiado pela esquerda

A cadeia produtiva das listas telefônicas foi extinta quando floresceu a hiperconectividade dos celulares. Desapareceu o prazer táctil e olfativo das listas sebosas e o governo não faz nada para impedir isso! Onde esse mundo vai parar?

Destruição criativa, expressão poética de Joseph Schumpeter para conotar mudanças – sobretudo na economia – que aniquilam atividades inteiras e trazem o fim do mundo, mas são geradoras de novos modos de viver, empregos mais sofisticados, mais complexidade nas relações entre pessoas.

Referência recorrente entre os liberais, o dictum schumpeteriano é odiado pela esquerda que se apresenta como revolucionária, apta a mudar o mundo e que atribui a ojeriza à mudança às pessoas rotuladas como de direita. A rigor, mais uma das contradições que fazem os rótulos sobre pessoas e ideias raramente coincidirem com o conteúdo.

A igualação do conservadorismo a imobilidade talvez seja uma das causas da falta de clareza na distinção entre as linhas de pensamento e condutas políticas. Para expungir dúvida basta olhar Cuba: revolución, revolución e paralisia social, cultural, econômica, política. Marxista-leninista-imobilista porque a mobilidade produz variáveis que inviabilizam planejamento e controle e ameaçam o conforto dos detentores do poder.

Contudo, não é apenas instinto de sobrevivência política. A questão de fundo está na filosofia marxista que se vê como detentora da capacidade de identificar cientificamente o verdadeiro e falso nas relações humanas. Assim, o socialismo é científico no sentido de que não é mais um dos muitos modos de convivência, mas aquele respaldado pela “verdade científica” como o melhor modus vivendi. Por decorrência, ao atingir o socialismo – forma perfeita de organização da coletividade – nada pode mudar, sob pena de retorno ao jeito selvagem. A imobilidade, então, não é defeito do sistema, é condição para sua existência.

Sistemas estáticos acumulam tensões e se rompem em cacos. Os flexíveis se agitam, sofrem fraturas, mas não rupturas, e seguem adiante. Resvalo nos conceitos de auto e alopoiese.

A acientificidade da convivência é a clave de sol para a leitura da partitura da vida. A música pode ter andamento largo, andante, allegro, vivace sem que haja maestro.

Eureca! Vamos criar o PAC: Programa de Apoio às Coelhinhas.

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