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No tempo em que havia propaganda de cigarro e álcool, existiu uma de vodka com o bordão "eu sou você amanhã", que passou a designar a situação de alguém que, em mau estado, antecipa como os outros estarão em breve. No caso do comercial, com ressaca brava se bebessem néctar eslavo de outra marca.

A expressão ganhou autonomia e frequentemente é aplicada para correlacionar Argentina e Brasil, que têm história de yin-yang: ora um sai do buraco, ora outro afunda e, na subida e descida, se encontram para abraço de bêbado. Assim, de certa forma, as más escolhas e resultados negativos de um antecipam o que acontecerá com o outro. Começa ditadura num, pouco depois no outro; inicia governo comum lá, depois cá; hiperinflação lá, logo mais cá.

A alternância entre exuberância e bancarrota – econômica e política – marcou o século 20 até que o Plano Real, especialmente depois do ajuste de 1999, pôs o Brasil nos trilhos e a Argentina seguiu com a economia indexada ao dólar até o corralito de 2001, quando faliu e o governo ficou sem dinheiro para pagar a conta de luz. De La Rua, o presidente, abandonou a Casa Rosada e, sem ser ladrão, fugiu.

A instabilidade política foi superada com a eleição do finado Kirchner e a economia começou a se recuperar da recessão profunda. Contudo, o velho modo de fazer política não se modificou. Os erros graves não serviram para amadurecimento das elites que tratam o país como se fosse butim do vitorioso. Vencer a eleição significa, nessa percepção primitiva da democracia, carta branca para ser ditador/corruptor por prazo certo, sendo que o período pode ser dilatado manobrando as leis, reelegendo-se, pondo a esposa como candidata. De república, no sentido de que o governo é apenas procurador, nem o menor sinal.

Em lugar nenhum todo o povo governa. As elites protagonizam o processo político. Se uma fração delas cede ao ímpeto populista, a pretexto de se manter no poder, arrasta toda a ação política para baixo, impedindo que o desenvolvimento ocorra pela política, o que dá espaço ao surgimento de discursos da não política. Ora essa negação aparece ora como governo "técnico", ora caudilhista, porque em ambos, imagina-se, não há políticos.

As elites platinas, orientando-se pelos despojos peronistas, estão presas ao círculo vicioso do populismo. Cada grupo que se organiza para ascender ao poder se apresenta como mais apto a distribuir pão e circo. O resultado medíocre é indefectível: inflação em alta, economia em baixa, desemprego crescendo, infraestrutura de energia e transporte em colapso. Apagões, saques aos mercados e criminalidade à brasileira deram à Argentina o ar triste da pobreza.

O Brasil teve saques a mercado nos anos 80; no filme Marvada Carne há cena antológica da alegria de um saqueador carregando pedaço de alcatra. Em 2014 o Plano Real faz 20 anos. É de se esperar que haja "abrasileiração" da Argentina, não o contrário.

Caminhar da estabilidade econômica e política para a "argentinização" seria, além de burrice das elites políticas, muito melancólico, atestando a incompetência da América católica.

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