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A imprensa estampou os R$ 2 bilhões gastos, desde 2004, com a presença de soldados brasileiros no Haiti. Diárias, combustível, compra de veículos, uniformes foram os principais gastos. Felizmente, munição e armas, os mais módicos. Ainda sobre gastos, por ocasião da comemoração do 147.º aniversário da Batalha Fluvial do Riachuelo, o governo anunciou o avanço do programa de construção de submarinos nucleares e navios para patrulha do mar territorial. Bilhões, bilhões. Como sempre, surgem comparações com os raquíticos gastos em segurança pública. São despesas mutuamente excludentes?

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Falando primeiro da nossa força no Haiti, pode-se afirmar que o custo distribuído ao longo de oito anos não é absurdo. Além da importância política da presença brasileira, ensejadora das condições para o surgimento de um governo haitiano democrático e eficaz, os militares estão obtendo experiência em atividade real, na qual o treinamento para a dissuasão e ação humanitária é reforçado, dando profissionalismo que nossos homens não obteriam se ficassem presos à rotina da caserna. O gigantismo geográfico, demográfico e econômico do Brasil precisa de correspondência simétrica na capacidade de apresentar-se como potência militar não belicosa, apta a cumprir missões das Nações Unidas com presteza em qualquer lugar do mundo.

As Forças Armadas brasileiras são minúsculas se comparadas a países de menor expressão internacional. O peso no orçamento beira a insignificância. O desbordamento da atividade castrense para a política é coisa do passado e não deve contaminar o futuro. A nação deve se livrar de postura preconceituosa e do temor de incrementar os meios de ação militar por ficar olhando para o retrovisor. Para o futuro, insta considerar que as democracias não devem ser flácidas, sem tônus muscular. A condição de nação democrática, na qual maiorias e minorias eleitorais têm expressão e es paços de poder, não elide a necessidade de meios para garantir a segurança pública interna e internacional. Democracia não é anemia política. A paz dos fracos é subserviência; a dos fortes, convivência. Os benefícios da diversidade, do respeito à individualidade, do desenvolvimento econômico síncrono com o social, frutos do ambiente democrático são fruíveis de modo estável se houver segurança. As democracias também têm adversários e devem ser assertivas de seus valores.

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Os encargos que pesam sobre o Estado moderno são caros. Educação, saúde, previdência, infraestrutura são expensivas. A segurança é condição primeira para a boa prestação dos serviços públicos. Situações extensas e intensas de insegurança são vizinhas da pobreza. A riqueza social medra quando as pessoas não sentem medo. A tanto, submarinos nucleares, navios, aviões, blindados, tropas equipadas, treinadas, bem- remuneradas, proficientes em vários idiomas, são investimento para o conforto individual e coletivo.

Quem deseja a paz deve se preparar para a justiça, não para a guerra. Contudo, o fiel da balança é a espada, significando que a força serve ao direito. Com a percepção de que a força organizada – civilizada – é instrumento de consolidação da democracia, não há gastos, há investimentos militares.

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