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O entorno de estações de ônibus e trem costuma se degradar porque a circulação de pessoas atrai hotéis e multidão de anônimos que se comporta de modo mais frouxo do que no local onde são conhecidos; prostituição, álcool e drogas grassam. Pronto, estão conjugados os fatores para que os imóveis desvalorizem e o círculo vicioso se acentue quando o poder público deixar de investir porque o local se torna pouco habitado e sem eleitores; melhor expender esforço em outras paragens.

Rodovias, ferrovias, portos deixam os arredores horríveis. Cinzentos de poluição, caminhões, barracões, áreas ermas. Ninguém quer ser vizinho de prédios abandonados, pátios de manobra, garagens de locomotivas, depósitos de ferro-velho. A antiga BR-116 era tenebrosa e isolava os moradores que viviam na Curitiba do leste. Quem morou no Bairro Alto sabe do perigo e demora para vir em direção ao Centro. A urbanização da antiga rodovia muda a paisagem e o modo da fruição da cidade. Aproveitaremos a oportunidade para fazer as coisas bem feitas ou vamos apenas passar pó-de-arroz sobre a cisão?

Os viadutos para ligar os dois lados da cidade podem tornar a paisagem mais feia do que era, com paredes de cimento repletas de pichação, ou ser obras de arte que embelezem o horizonte e abram espaço para jardinagem com hera, flores e arborização. O orgulho que os coreanos, franceses e ingleses sentem de suas pontes e praças não tem preço. O baixo astral, a sensação de que se vive num lugar mal cuidado, condenado à pobreza, é muito custoso.

Há fotos da Ponte do Brooklyn, em Nova York; da ponte elevadiça de Londres; das pontes de Paris repletas de estátuas; das quilométricas na Ásia, em painéis espalhados pelo mundo. De qual obra pública brasileira há coisa semelhante? Excetuando Itaipu, as nossas obras públicas não atraem turistas. A Torre Eiffel é absolutamente inútil, mas gera renda com as milhões de visitas que recebe por ano. Será que tudo o que fazemos tem de ser malfeito e feio? Penso que não. Construir cidades bonitas e mantê-las asseadas, com jardins bem tratados, marcos arquitetônicos significativos, é qualidade de vida.

Curitiba carece de atrativos naturais: praias, cachoeiras, rios, montanhas deslumbrantes. Apenas a arte e engenho são aptas a dar alguma beleza. O Museu Oscar Niemeyer, o Jardim Botânico, o Centro Cívico, a Catedral são atraentes, mas insuficientes para que toda a urbe seja bonita. Por isso, as obras em curso na linha que rasga a cidade de Norte a Sul devem aliar atributos de funcionalidade e esteticidade, agradando pelas facilidades de uso e pela arquitetura. A objeção imediata é sobre o preço: para que fazer viadutos caros se os baratos servem!? A beleza estimula a produção de riqueza ao movimentar a economia para produzir bens sofisticados e o ambiente aprazível atrai investimentos que geram novas riquezas. A beleza é virtuosa.

A ponte estaiada de São Paulo é pano de fundo de jornal televisivo. Se fosse monstro de concreto, seria cenário de degradação e não símbolo que envaidece a cidade. Os estais ligados à coluna remetem às cordas que estabilizam o mastro do veleiro. A delícia desse imagem pode suavizar a rotina de milhões de transeuntes que navegarão a nova via por séculos.

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