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 | Ilustração: Felipe Lima
| Foto: Ilustração: Felipe Lima

A estátua do Redentor está em manutenção. A exposição ao sol, chuva e raios danificou a pedra-sabão. Com patrocínio da Pirelli, operários-alpinistas vão restaurar dedos e outros pontos da obra de arte, além de ampliarem a área de proteção para evitar que raios atinjam em cheio a estátua, como ocorreu há dias, ocasião em que cinegrafista amador registrou imagem linda da ligação entre Cristo e o céu no traço flamejante de luz do relâmpago.

Contudo, me ocorreu que, se o raio tivesse demolido a estátua, não seria possível construir outra porque a legislação ambiental, prenha de exageros, exige estudo de impacto ambiental que confirmaria que o morro do Corcovado é impactado pela estrada de acesso, pela multidão de turistas, pelos alicerces da estátua, pela derrubada de vegetação. Desenhando cenário quase real: haveria ações judiciais se arrastando por décadas e, nesse ínterim, a vegetação se regeneraria. Ao fim, se fosse decidida a reconstrução, alguém acamparia no cume para impedir que as árvores nascentes fossem derribadas e a ação policial seria criticada por "dhditos" (viciados em direitos humanos), adiando à eternidade a restauração.

Na senda de hipóteses, basta imaginar que, se Juscelino não tivesse transferido a capital e se resolvesse fazer isso hoje, a licença ambiental seria negada para a barragem do Paranoá e para a destruição de extensa área de vegetação nativa. Depois de anos de tortura burocrática, quando a obra de Brasília começasse, um caco de cerâmica apareceria numa escavação e a obra seria paralisada porque o local é terra indígena. Hipótese louca ou realidade enlouquecida?

Do hipotético para o fático: há dias, um dos jipes que circula em Marte patinou sobre uma pedra e expôs a face que estava sem sol há milhões de anos. Impactou o ambiente marciano de modo irreversível. Por precaução, para evitar danos ambientais, vamos proibir as expedições à Lua, Marte e à fronteira final? O capitão Kirk pedalará pelas estrelas!

Itaipu, a salvação do padrão moderno de vida, livra a atmosfera do efeito da queima de milhões de toneladas de petróleo. As hidrelétricas preservam o meio ambiente da civilização energívora. Se fosse hoje, Itaipu não seria construída porque o messianismo eco-salvador criaria milhões de obstáculos, como está fazendo com as poucas usinas em edificação enquanto as termelétricas estão funcionando a plena força. Belo Monte, Santo Antônio, Jirau gerarão energia firme apenas nas cheias. Nas secas, quando o aporte delas faltar, é melhor ter estoque de velas.

Do pó vieste e ao pó volverás. A máxima da humildade pode ser interpretada no sentido de que a natureza sempre vence. O planeta não é pintura de natureza morta, estática. Mesmo sem eventos antrópicos, biomas nascem e morrem acompanhando mudanças solares, terremotos, vulcões, meteoritos. O planeta prescinde de salvação. Pugnar pela preservação de boas condições ambientais visa a salvar os humanos. Se desaparecermos o mundo continuará girando sonolento e os ciclos de extinção e surgimento de espécies se manterá.

A precaução pode ser sabedoria ou covardia. Ao lidar com as questões ambientais é preciso estar atento aos efeitos sobre a qualidade de vida hoje, sem fobias do futuro.

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