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Entre o cronista e o leitor se estabelece relação de expectativas que aceleram o coração. O leitor assíduo fica imaginando qual será o assunto da semana seguinte e o cronista se angustia indagando a reação do leitor ao tema escolhido e a maneira como ele foi versado. Escrevo no momento que a espera não está comigo e fico pensando nos muitos acontecimentos que servem para motivar uma crônica a ser lida na início da manhã de segunda-feira. Dilma e Obama; Coreia do Norte e seus foguetes; Síria e a tragédia árabe; Irã nuclear; Espanha desempregada. Os assuntos brasileiros machucam tanto nossos ouvidos que falar de ligações perigosas entre políticos e criminosos é coisa para dar azia logo cedo. E daí, escolho assunto óbvio ou tento surpreender o leitor para manter a liça estimulante de adivinhação e erro?

Minha vontade é comentar a visita da Presidente ao Presidente porque há nuances extraordinárias nas pessoas que encarnam os dois países mas, ao mesmo tempo, os debates e acordos são pífios, quase risíveis, como o reconhecimento mútuo da cachaça e do Bourbon. Talvez fosse mais interessante conseguir da Rússia a declaração de que a caipiroska é a melhor invenção desde o Sputnik. De milho, como o Bourbon, só curau e pamonha.

Bem, poderia falar das obras para a Copa do Mundo. Vá lá, é assunto que vai atordoar de tantas palavras que serão ditas para explicar porque os estádios custam fortunas, a seleção canarinho está mais para tico-tico de rapina e os cervejeiros farão festa nas arquibancadas. Filosofar sobre a liberação da venda de álcool porque a Fifa pressionou e o governo cedeu vergonhosamente não dá futuro. A imagem da delegação brasileira, com o corinthiano Lula à frente, festejando a decisão da Fifa de fazer a Copa no Brasil serve para fazer trocadilho infame: quem ri primeiro, ri pior porque não sabe em que está se metendo. Naquele momento éramos 200 milhões em ação, tudo num só coração. Pensei, havíamos voltado a 1970, faltando apenas o adesivo Ame-o ou deixe-o. Let it be.

Três parágrafos, o leitor ainda não sabe qual o tema de hoje, a brincadeira de gato e rato prossegue. E se fosse uma crônica concretista, ao estilo da poesia concreta que comunica pela imagem e som, as letras poderiam cair em cachoeira para metaforizar o escândalo do dia. Para quê? A mácula de agora é só jeito de esquecer a de ontem, anteontem, ano retrasado. Talvez estejamos atingindo a síndrome de Burnout, exaustos de nos escandalizar e o futuro e o passado continuarem absolutamente iguais.

As linhas estão quase esgotadas; está na hora de falar sobre o tema de hoje: o Sex Pistols recusou o convite para a festa de encerramento da Olimpíada em Londres, porque não haverá cachê. Não se fazem mais punks como antigamente! Porém My Way na voz do finado Sid Vicious ainda é diversão garantida, com a sensação de que um pouco de deboche faz o dia nascer feliz.

Acho que por esse assunto ninguém esperava. Seriedade o tempo todo faz mal à saúde, já advertiu um dia o Ministério do Febeapa, na voz do Ministro Stanislaw Ponte Preta.

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