Não lembro se já comentei aqui, mas um dos meus sonhos é me tornar um bom imitador de vozes. Uma das mais passáveis talvez seja a do papa João Paulo II falando português. Também imito Lula e Silvio Santos, mas isso não é mérito algum: todos os imitadores de voz, amadores ou profissionais, bons ou ruins, imitam Lula e Silvio.

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Mas eu não queria apenas imitar a voz do papa João Paulo II. Gostaria mesmo era de poder imitar a pessoa que ele foi; o bem que ele realizou; a santidade que ele conquistou. O alemão Tomás de Kempis escreveu A Imitação de Cristo para o mundo medieval. Nosso tempo poderia começar imitando o polonês Karol Wojtyla. Os santos imitam o Cristo. Nós tentamos imitar os santos.

Eu não sou digno de João Paulo II. A começar pelos seus silêncios, que fazem lembrar o querido São José. Embora o papa tenha pronunciado palavras belíssimas – vide o sermão de Nowa Huta e a encíclica Fides et Ratio –, conhecia o valor e a força do silêncio que envolve a oração. Durante as missas clandestinas dos países comunistas, na falta do padre, os fiéis permaneciam em silêncio para a consagração do pão e do vinho. Esse silêncio fala mais do que inúmeras homilias. E João Paulo soube ouvi-lo e traduzi-lo para o mundo, na sua luta contra o regime mais opressor da história.

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Seus longos silêncios de oração tornaram-se lendários. Surgiram várias anedotas, nem todas de veracidade confirmada. Numa viagem de avião ao Brasil, um secretário da Cúria interrompeu-o durante uma prece. "É assunto importante, Santidade", desculpou-se o assessor. O papa respondeu: "Eu sei que é importante. Por isso preciso rezar!" Quando lhe disseram que estava rezando demais e dormindo de menos, o papa fez pouco caso: "No Céu terei muito tempo para dormir".

Primeiro papa a pisar numa sinagoga e numa mesquita, João Paulo II tratava os judeus por "nossos irmãos mais velhos". Pelo mesmo raciocínio, os protestantes seriam "nossos irmãos mais novos". Em 1947, encontrou-se com o Padre Pio de Pietrelcina, que lhe fez duas profecias simultâneas: "Serás papa. Mas vejo tua batina manchada de sangue". Infelizmente, o ecumenismo de sangue tem sido uma regra em nossos tempos.

Sei que João Paulo II cometeu erros – mas isso acontece desde o primeiro papa. Era um homem. Um homem que eu vi a poucos metros de distância, em 1980, quando o papamóvel andou pela Avenida Tiradentes, em São Paulo. Na época, todos o chamavam de João de Deus. Rogai por nós, São João Paulo II!

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