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Em 1969, Fidel Castro cancelou o Natal em Cuba. O ditador alegou que todos os esforços do povo deveriam ser concentrados na produção de cana-de-açúcar, e não numa festa religiosa "importada". Com isso também ficou cancelada a troca de presentes, que em Cuba é feita no Dia de Reis, 6 de janeiro. A tristeza das crianças cubanas naquela ocasião acabou sendo inútil: afinal, a prometida safra de 10 milhões de toneladas socialistas não foi atingida, mesmo com milhares de pais de família e jovens forçados a trabalhar nos canaviais da ilha-cárcere.

O Evangelho de São Mateus é o único a trazer um relato sobre a visitação dos magos do Oriente. Da leitura do texto bíblico, deduzimos que eles eram três, pelo número de presentes que trouxeram ao Menino Jesus: ouro, incenso e mirra. Os presentes simbolizam aspectos do Filho de Deus: realeza (ouro), divindade (incenso) e humanidade (mirra). Em nenhum momento a narrativa de Mateus usa a palavra "reis" para designar os visitantes adoradores. Mas podemos concluir que eles eram figuras proeminentes em seus lugares de origem, já que antes foram recebidos pelo rei Herodes. Talvez fossem personagens semelhantes ao rei-filósofo idealizado por Platão, respeitados não por seu poder, mas por sua sabedoria. Sem dúvida, pertenciam à primeira casta, sacerdotal.

O Dia de Reis – aquele que o ditador cancelou – faz-me pensar nos presentes que Deus tem colocado em nossa mesa: verdade, beleza, bondade, justiça, misericórdia, cura, graça, pão, vinho, fé, esperança, amor. Todos os problemas e percalços surgidos ao longo do caminho – os Castros e Herodes que temos de suportar – são apenas as necessárias tribulações que no fim vão conduzir ao estado de graça, também chamado Céu.

Resta saber quais os presentes que nós temos colocado na mesa de Deus. Nosso dever seria oferecer cotidianamente o ouro, o incenso e a mirra merecidos por aquele que é. Dentro das minhas limitadíssimas possibilidades, quero dar pequenas contribuições ao banquete divino: gratidão, trabalho, renúncia, alegria, perdão, carinho, serenidade – talvez uma crônica ou poema. Sei que não será muito, mas Deus não exige uma produção de 10 milhões de toneladas.

É preciso estar preparado. Onde quer que existam visitadores dispostos a adorar e presentear o Menino-Deus, haverá também um Herodes pronto a massacrar inocentes com sua inveja e seu medo. Mas isso não nos fará desistir de nosso intento. Agora, silêncio: o Menino está dormindo. Quando Ele acordar, a eternidade vai iluminar a noite do tempo.

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