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Todas as semanas vou à Biblioteca Pública de Londrina; é um dos meus lugares preferidos na cidade. Naquele mesmo prédio, até os anos 80, funcionava o Fórum da Comarca. Antes do Fórum, nos anos 30, havia uma quadra de tênis, usada pelos funcionários da Companhia de Terras Norte do Paraná. O lugar ficou conhecido como "a quadra dos ingleses" – embora alguns fossem escoceses e outros, brasileiros filhos de cidadãos britânicos. Quando passeio em silêncio entre as prateleiras da biblioteca, às vezes penso ouvir o coração de Londrina batendo naquele chão.

Dizer que os ingleses não tiveram papel importante na colonização de Londrina equivale a afirmar que os jesuítas em nada contribuíram para a fundação de São Paulo. A Companhia de Terras Norte do Paraná, empresa de capital inglês e com sede em Londres, foi a grande responsável pelo planejamento e colonização de Londrina e região. Por meio de um programa cuidadosamente elaborado, colonos sem grandes recursos puderam se estabelecer na região, tornando-se proprietários e pagando os lotes com recursos da própria terra. Muitas outras etnias – foram contadas mais de 30, ainda em 1938 – estiveram presentes, algumas com grande destaque, no processo da colonização, dando-lhe um caráter multicultural que até hoje é uma das marcas da cidade. Antes dos ingleses, houve desbravadores e povos nativos. Mas negar a importância da Companhia de Terras equivale a apagar a história – como fazia Stalin na União Soviética.

Hoje fala-se muito em "empresa socialmente responsável". A Companhia de Terras foi exatamente isso, muitos anos antes do surgimento da expressão. Nenhuma cidade existe sem empresas, mas poucas podem dizer que nasceram como empresa; Londrina é assim.

Se a moda do revisionismo histórico pegar, logo vamos ter de providenciar a troca de alguns nomes da cidade. Nosso mito fundador passará a ser mico fundador. Quem sabe o Parque Arthur Thomas vire Parque Carlos Lamarca. A Praça Willie Davids (primeiro prefeito eleito da cidade, filho de galês) pode ser doravante Praça Luís Carlos Prestes. Um bom nome para a Avenida Winston Churchill seria Avenida Leon Trotsky. A Companhia de Terras Norte do Paraná dará lugar à VAR-Palmares (instituição na qual militou nossa presidente).

Na novela de Dias Gomes, os habitantes de Bole-Bole querem trocar o nome da cidade para Saramandaia. Londrina, a julgar por alguns militantes juramentados, corre o risco de não ser mais a Filha de Londres. Vai virar Assentamento Guarani-Kaiowá – pra inglês não ver.

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