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Se já não fosse por seus enormes méritos próprios em tudo a que se dedicou, desde a advocacia até o jornalismo e a música, Eduardo Virmond seria uma figura notável pela quantidade e qualidade dos amigos que acumulou ao longo da vida. Há dias, despedindo-se da presidência da Academia Paranaense de Letras, homenageou quatro deles e transformou o que seria um jantar de confraternização de Natal em uma aula de história contemporânea.

Homenageados eram Gaspar Velloso, o grande político, fundador da Secretaria de Educação e senador (representado por seus filhos Fernando e Roberto); a pianista Henriqueta Penido Monteiro Garcez Duarte, criadora do Festival de Música de Curitiba; o ex-ministro Euclides Scalco, que "faz política" de um jeito cada vez mais raro, com integridade e caráter; e Orlando Soares Carbonar, embaixador, testemunha e protagonista de episódios vitais da história brasileira recente. Entre os acadêmicos presentes, Leo de Almeida Neves, um personagem histórico, cuja vida pública transborda coerência e lealdade a princípios e convicções pelos quais pagou muito caro.

Nos breves discursos de agradecimento, confirmei uma velha convicção: nós, os paranaenses mais vividos (para não insistir naquela tolice da "melhor idade"), formamos um grupo privilegiado porque tivemos a oportunidade de observar e participar de um processo de transformação geográfica, histórica, econômica, social e cultural em nosso estado que tem poucos paralelos na história brasileira (e mesmo mundial).

Infelizmente, muitas dessas transformações não são conhecidas das gerações mais jovens. Quando Scalco relatava o que era o Sudoeste do Paraná no fim dos anos 1950 – afinal, uma data não tão distante, a ponto de ter testemunhas oculares –, pode-se entender a verdadeira saga dos pequenos colonizadores de nosso estado; antes no Paraná tradicional, depois no Norte do estado com a magnífica empreitada dos pés-vermelhos, aliás retratada primorosamente pela revista Helena, da Secretaria de Cultura; finalmente, na ocupação do Oeste e do Sudoeste por gaúchos e catarinenses, enfrentando a cobiça dos grandes grileiros, que impunham sua vontade à bala. Scalco foi protagonista e testemunha do processo de regularização das terras da região, que eliminou os empecilhos que freavam seu desenvolvimento.

E quando Carbonar lembrou os primeiros passos e atos que levaram à construção da Usina de Itaipu, pudemos recordar o momento em que o Brasil mudou de escala e atropelou na poeira da história os néscios que falavam das "obras faraônicas da ditadura militar" e os profetas do caos que asseguravam que nunca mais o Oeste do Paraná poderia plantar um pé de milho, por causa dos impactos ambientais. As referências a Gaspar Velloso nos lembraram que já estivemos no centro das decisões da república em momentos cruciais e Dona Henriqueta demonstrou que, mesmo nos trópicos distantes, é possível criar e inovar na área cultural com padrões internacionais de qualidade.

Só espero que, em tempos de memória fugaz, a experiência dessa gente não se perca. Afinal, não é fácil relatar uma verdadeira história de vida em 140 caracteres do Twitter...

Belmiro Valverde Jobim Castor é professor do doutorado em Administração da PUCPR.

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