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É insensato e paradoxal que nós, humanos, dotados de grande inteligência, sejamos os únicos a degradar o habitat em que vivemos. E em sua reação, a natureza é, a um só tempo, nobre e rude. É agradecida com quem a trata bem, além de ser espontaneamente dadivosa, bela e vivificante. Porém, sabe ser pedagógica, ou até mesmo vingativa, aos 7,3 bilhões de terráqueos: "se persistirem em alterar o equilíbrio ambiental, eu os arruíno", ela avisa.

Não há mais o benefício da dúvida. O ser humano é o principal indutor do aquecimento global, de secas, inundações, incêndios, furacões e do empobrecimento do solo. Essas catástrofes têm provocado perdas econômicas em escala sem precedentes, que começam a ser inseridas nos radares das grandes seguradoras e fundos de investimento.

O primeiro inventário de emissão de gases de efeito estufa, divulgado em novembro de 2014 pela Gazeta do Povo, demonstra que cada brasileiro é responsável pela produção de 12,2 toneladas de gás carbônico (CO2) por ano, num crescendo de 7,8% ao ano, sendo a principal causa o consumo de combustíveis fósseis. "Sabemos acima de qualquer dúvida que nosso clima está mudando e se tornando mais extremo devido a atividades humanas como queima de combustíveis fósseis", alerta Michel Jarraud, secretário-geral da Organização Meteorológica Mundial, diante do nível recorde de CO2 na atmosfera. Os efeitos reais são visíveis em todos os quadrantes da Terra, como o derretimento dos glaciares, a elevação do mar em 19 cm desde o início do século 20 e o incremento da temperatura média, culminando com a última década mais quente desde 1850.

O desmatamento é a segunda causa de elevação dos níveis dos gases do efeito estufa. De acordo com a revista científica Science, desde 2008 o país perdeu 44 mil quilômetros quadrados de áreas de conservação. De uma das biomassas de maior diversidade do mundo – a Mata Atlântica – restam apenas 7,3% da cobertura original.

No Brasil, as políticas equivocadas e com fins eleitoreiros do governo relegaram investimentos em energias renováveis como hidrelétrica, eólica, solar, biomassa e etanol. Ainda promove um despautério quando, por exemplo, onera toda a sociedade subsidiando a gasolina e o diesel e reduzindo o IPI dos automóveis.

A tibieza se desvela naquilo que diuturnamente está ao alcance de todos: apesar das campanhas nas escolas e na mídia, o índice de separação do lixo estacionou. Em contrapartida, cresce em 6,8% a produção anual de resíduos, que corresponde aproximadamente a 400 kg/ano por brasileiro.

Algumas cidades se deparam com um novo desafio: o subsídio ao lixo já é maior que o subsídio ao transporte coletivo. Especificamente em Curitiba, a prefeitura arrecada R$ 76 milhões e gasta R$ 160 milhões para prestar o serviço. Ademais, não estamos desenvolvendo a cultura do consumo sustentável. Inúmeros penduricalhos, embalagens e sacolas são desnecessariamente ofertados pelas lojas e praças de alimentação dos shoppings, cujo destino é o aterro sanitário, onde 30% do que é enterrado seria reciclável.

Um estudo do Fundo Mundial para a Natureza (WWF) estima que o ser humano ultrapassou em 20% os limites de exploração que o planeta pode suportar sem ser degradado. A Terra já não mais nos aguenta. É a marcha da insensatez do homem deletério, consumista e hedonista. Cálculos de alguns cientistas indicam que, se todo o bem-estar dos países desenvolvidos fosse universalizado, necessitaríamos de três Terras.

É preciso que deixemos de vislumbrar o aquecimento global como uma hipótese teórica e a sustentabilidade como um mero discurso politicamente correto. Afinal, a qualidade de vida que nossos filhos terão daqui a 20 ou 50 anos depende diretamente de como tratamos o planeta hoje. "A terra não nos pertence. Ela foi emprestada de nossos filhos" – faz-se oportuna a observação de um cacique indígena norte-americano, em frase proferida há mais de um século.

Jacir J. Venturi é presidente do Sinepe/PR e coordenador da Universidade Positivo.

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