Desgaste e banalização. Infelizmente cada vez mais esses substantivos nos remetem ao que está sendo feito com a tão necessária sustentabilidade. Governos, empresas e pessoas falam sobre “ser sustentável”, “desenvolvimento sustentável” e uma série de expressões que derivam do termo original, limitando-o principalmente a ações – por vezes simplistas – de cunho ambiental.

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Não se questiona aqui a importância de se investir no meio ambiente, que é vital para a nossa sobrevivência. Mas tão importante quanto minimizar os efeitos do aquecimento global, reflorestar áreas desmatadas ou promover o uso consciente da água é enfrentar diversos outros problemas como o racismo, a busca pela igualdade de gêneros, a violência contra a mulher, os abusos de menores, a homofobia, a fome e demais entraves que estão “diante dos olhos” da sociedade, embora esta pareça não querer vê-los. Sim, a sustentabilidade também é feita de pessoas, de seres humanos. Mas, muitas vezes, esse viés é deixado de lado.

Felizmente, sempre haverá vozes que soarão como verdadeiros gritos para chamar a atenção de todos para essas questões. E elas podem vir de onde menos se espera. A última entrega do Oscar, por exemplo, foi marcada por discursos de teor político e social, feitos por artistas de quem, talvez, se esperasse apenas um “obrigado” pela estatueta e, no máximo, uma piadinha para descontrair. Um dos destaques foi a fala da atriz Patricia Arquette, que ao receber o Oscar por sua atuação em Boyhood fez um apelo pela igualdade salarial entre homens e mulheres nos Estados Unidos.

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Se na maior nação do mundo homens ainda ganham mais que as mulheres, mesmo quando ambos possuem formação e experiência semelhantes, o que se pode esperar da situação feminina em países em desenvolvimento. Uma pesquisa do BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento) mostra que, no Brasil, profissionais do sexo masculino recebem 30% mais que suas colegas. A diferença é superior à registrada nos demais países latino-americanos, onde a disparidade salarial entre gêneros é de 17%.

Outros dados reforçam a urgência de humanizar as ações de sustentabilidade. Um estudo feito pelos Institutos Data Popular e Patrícia Galvão revelou que 54% dos brasileiros conhecem mulheres que sofreram algum tipo de violência, praticada, principalmente, dentro de casa: é aí que ocorrem 70% dos casos. Ainda descriminalizada no Brasil, a homofobia resultou em mais de 200 assassinatos ao longo de 2014, conforme números do Grupo Gay da Bahia, organização que procura suprir a falta de estatísticas oficiais sobre esse tipo de crime no país.

Numa sociedade como a brasileira, com obstáculos que ainda precisam ser superados, a contribuição de empresas privadas torna-se a principal fonte para o desenvolvimento de ações sustentáveis que tenham foco no ser humano, objetivando que projetos de responsabilidade social sejam, de fato, implementados. As possibilidades são diversas e as empresas podem, inclusive, envolver o poder público e outras instituições em verdadeiras pontes para o bem das pessoas e das comunidades.

O desafio está lançado. Sem descuidar do meio ambiente, é preciso começar a construir, o quanto antes, o conceito de uma sustentabilidade mais humanizada. Assim, as futuras gerações terão mais facilidade para associá-lo ao conjunto de iniciativas que melhoram a vida das pessoas e, consequentemente, fazem do mundo um lugar melhor para viver.

*Leonor Sá Machado é presidente da TheBridge, empresa de Responsabilidade Social com sede no Brasil e filial em Angola.

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