Entre as mazelas econômicas, a que tem o maior potencial para drama individual e tensões sociais é o desemprego. Por essa razão, é o principal problema social, que deve ser elevado à condição de prioridade número um e ser enfrentado sem tréguas. Apesar da relevância do desemprego, esse assunto tem frequentado as notícias e as manchetes da imprensa como um problema comum do país. Uma explicação possível para isso é a enorme crise moral e política que tomou conta da nação em face do processo de impeachment e da interminável montanha de fatos de corrupção apurados no âmbito da Operação Lava Jato.

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Segundo dados oficiais, o Brasil tem pouco mais de 100 milhões de pessoas na chamada “população economicamente ativa”, aquela em idade e condições de trabalhar. Dessas, perto de 10 milhões já estão atingidas pelo desemprego. Há quatro anos, os estudiosos de economia vinham alertando para a estupidez contida na fala da presidente Dilma quando ela dizia que o Produto Interno Bruto (PIB) caiu, mas o nível de emprego foi preservado. Esse discurso foi feito antes que a queda do PIB jogasse o desemprego nas alturas, coisa que os leitores de história econômica sabiam que iria acontecer. Quando o PIB cai, o desemprego demora um pouco para aumentar e aparecer nas estatísticas, por razões técnicas que teorias econômicas já estudaram.

Tratar os brasileiros como ingênuos a quem não se pode dizer a verdade é um erro da líder da nação

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O PIB de 2014 foi igual ao do ano anterior; o de 2015 caiu 3,8% em relação ao de 2014; e as estimativas do próprio Banco Central (BC) informam que o PIB de 2016 deve cair mais 3,5%. Somente alguém com desconhecimento de economia pode imaginar que, numa situação como essa, o desemprego não aumentaria. É lícito imaginar que a presidente da República tenha feito discursos como os que fez por estratégia política, não por desconhecimento de que o desemprego fatalmente iria aumentar mais adiante.

Um governante colhe a desconfiança da nação e a descrença dos investidores quanto tergiversa e mente, coisa que os marqueteiros do governo sabem muito bem, sendo estranho que a presidente Dilma tenha tomado o caminho de ludibriar a nação com discursos insustentáveis no médio prazo. A presidente vive reclamando da imprensa e de quem mais a alerte para os erros de comunicação que ela e seu governo cometem, mas a realidade é que a imprensa não cria fatos nem discursos, apenas os divulga. No caso do aumento do desemprego, nada é inventado: os dados divulgados são dos órgãos oficiais e não há como amenizar o drama.

O desemprego no Brasil atingiu em torno de 4,5 milhões de trabalhadores ao fim de 2014 e, apenas um ano após, caminhava para chegar perto de 10 milhões. Mais que o número em si, é grave a trajetória da taxa de desemprego, que continua crescendo em 2016, pois há uma relação direta entre o crescimento do PIB e a taxa de desemprego, ainda que os efeitos ocorram com defasagem de alguns meses entre um e outro. Assim, o discurso presidencial de que, apesar da queda do PIB, o desemprego não aumentou foi uma pixotada sem tamanho.

Tratar os brasileiros como ingênuos a quem não se pode dizer a verdade é um erro da líder da nação, além de só contribuir para reduzir ainda mais a credibilidade de suas afirmações. Ou a presidente não ouve ou está mal assessorada em relação ao conteúdo de seus discursos e daquilo que diz ao povo. O desemprego é assunto sério demais para se prestar a declarações inverídicas.

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