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Apesar de o próprio presidente Lula ter ocupado a cena para tranqüilizar a sociedade quanto ao período de instabilidade nos mercados financeiros, a turbulência iniciada há cerca de duas semanas continua com o generalizado recuo das cotações de títulos e, no Brasil, também com a subida do dólar. A esta altura os principais economistas concordam que a crise se arrastará por mais tempo, afetando inclusive o lado real da economia, com retração no consumo das famílias dentro dos países e, no exterior, com a queda do comércio.

Para Lula quem deve sofrer são os países de maior risco, aqueles que possuem déficit na conta corrente de trocas externas ou que se lançaram em programas muito ambiciosos de expansão. Ele se referia aos asiáticos, com sua ânsia de produzir mais para vender para os consumidores norte-americanos e europeus. O presidente considera que o Brasil está fora dessa corrida: aqui o mercado consumidor interno mais amplo é abastecido por uma produção industrial diversificada e o grau de exposição é relativamente menor. Outro aspecto favorável é o fato de termos boas reservas cambiais.

Apesar disso, a Bolsa de Valores de São Paulo tem oscilado com uma intensidade que, embora em menor escala, reflete o abalo dos mercados de pequenos países asiáticos. Embora o epicentro da crise se localize nos Estados Unidos, o Brasil sentiu o efeito da saída de investimentos com a cotação da moeda norte-americana voltando a superar R$ 2,00. Por isso, o economista Paulo Nogueira Batista, o brasileiro que ocupa um cargo de direção no Fundo Monetário Internacional, propõe que o país proteja suas reservas em moeda forte evitando continuar com a política de apreciação cambial que vigorou até aqui.

Na mesma linha, há economistas que lamentam que o governo brasileiro tenha praticado uma política de controle inflacionário via câmbio que impediu maior expansão das exportações durante a bonança dos últimos anos que, ao menos temporariamente, parece fora de cena. Paulo Rabello de Castro, professor de Economia, acrescenta que o Brasil cedeu espaço produtivo por não ter projeto definido, numa guerra econômica melhor aproveitada por países emergentes mais dinâmicos.

As autoridades monetárias insistem que a crise pode ser controlada, por representar mera "correção de ativos" relacionados com o mercado imobiliário norte-americano. O problema é que a turbulência atual parece ser mais ampla do que isso: dirigentes financeiros se queixam da ocorrência de um sinal de inversão de tendência em que os fundamentos econômicos passam a ser secundários e as pessoas correm para se desfazer de ativos financeiros, reduzem o consumo e ficam temerosas da perda dos empregos – o que espalha temor por toda a economia.

A despeito do conselho de alguns economistas mais ousados, é preciso que os bancos centrais continuem socorrendo os investidores que registraram perdas significativas. Uma atitude mais passiva aprofundaria a crise, como ocorreu em 1929, quando a quebradeira iniciada nos Estados Unidos fez estragos no mercado econômico do mundo todo.

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