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A campanha eleitoral será mais despojada, conforme decisão tomada ontem em acordo de líderes partidários na Câmara dos Deputados, em matéria já aprovada no Senado e com tramitação a ser concluída em tempo de aplicação no próximo pleito. Trata-se do primeiro passo para evoluirmos do sistema atual – de voto proporcional aberto para um modelo capaz de representar melhor a sociedade – e também mais indicado para inibir desvios de corrupção como a prática do "caixa 2".

Ainda no cenário político, a semana girou em torno de novas denúncias formuladas durante depoimentos nas CPIs em curso ou perante autoridades policiais. Porém o episódio de mais repercussão foi o ataque desferido pelo ex-presidente Fernando Henrique contra o partido dominante e suas lideranças, incluindo o presidente da República.

A crítica de FHC ganhou repercussão pela posição relevante do antigo mandatário, que após ocupar a Presidência da nação por dois mandatos conduziu uma transição em alto nível para o atual titular do Palácio do Planalto. Mas ela sobressaiu também por uma dureza fora do comum, não usual no antigo professor de Sociologia travestido em ator político. Para alguns analistas, ao atacar Lula e o PT dessa forma, Fernando Henrique visou distrair a atenção do problema interno atravessado pelo seu partido, o PSDB, da escolha de um postulante presidencial entre o governador Geraldo Alckmin e o prefeito José Serra.

Seja como for, o ataque rude não é usual em nossa sociedade, de natureza mais amena por fatores étnicos e históricos. Sérgio Buarque de Holanda, quando fixou o caráter cordial brasileiro, queria expressar que a índole do nosso povo não valoriza radicalismos do tipo observado entre certos grupos sociais onde o confronto facilmente extravasa para situações violentas. Esse perfil afeito à negociação pacífica gerou a estatitude que, para José Guilherme Merquior, nos livrou de crises cruentas ao longo da fase formativa, mantendo o Brasil unido enquanto outras ex-colônias vizinhas se fragmentavam.

A preferência pelo diálogo, aliás, distingue o ser político dos bárbaros, na visão de Hannah Arendt. Porém, uma avaliação cuidadosa da entrevista do ex-presidente Fernando Henrique a uma revista semanal, mostra as críticas retiradas do contexto. Este em seu conjunto é mais palatável: o ex-presidente referiu que os petistas desenvolveram, ao longo de sua trajetória como partido, a mística de pureza ética comum a movimentos similares e, nessa dimensão, seus líderes e membros racionalizaram atos justificados pela limpeza dos objetivos – repetindo a assertiva maquiaveliana de que "fins nobres justificariam meios não morais"; o que em outras situações históricas derivou para abusos.

Essa reivindicação de excepcionalidade é que poderia colocar a democracia em risco, insiste o ex-presidente da República. Esperamos, entre nós, evitar essa ruptura, com uma sociedade vigilante garantindo uma imprensa livre.

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