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O Banco Central (BC), ao anunciar na quarta-feira a diminuição da Selic de 13,75% para 12,75%, corte de um ponto porcentual, estabeleceu um novo direcionamento para a economia brasileira. Foi a primeira redução da taxa Selic promovida pelo Copom (Comitê de Política Monetária do BC) desde setembro de 2007 e a maior, de uma única vez, desde novembro de 2003. E o mais importante: sinaliza novos cortes. Criticado em dezembro por não alterar a taxa em meio à crise, o BC diz que iniciará um "processo de flexibilização da política monetária". Mesmo assim, o país permanece na nada honrosa primeira posição entre os países com as maiores taxas de juros reais do planeta (descontada a inflação): 7,8%, bem acima do segundo lugar, a Hungria, que tem 5,8% de juros reais. É preciso ousar mais.

A determinação de reduzir um ponto porcentual na taxa de juros, que surpreendeu de certa forma o mercado, foi motivada estritamente pelos parâmetros técnicos que regem a economia, embora não tenha havido unanimidade no Copom. Em comunicado, o BC tentou mostrar que, mesmo em meio a fortes pressões políticas, como as passeatas de protesto de trabalhadores em diversas capitais, o coro cada vez maior dos empresários e a própria opinião do presidente Lula, a decisão foi técnica e não coloca em risco o atual controle da inflação. É a independência que todos esperam.

Os preços dos alimentos, grandes vilões da inflação em 2008, já haviam sido refreados há um bom tempo, desde que o preço das commodities despencaram com a crise financeira internacional. A Vale, por exemplo, diante do corte abrupto da produção mundial de aço, reduziu a extração de minério de ferro em 26,3% no trimestre passado. Da mesma forma, caiu a demanda brasileira e mundial, como mostraram o desempenho do comércio e da indústria. O crédito tornou-se mais caro e mais curto, o que gerou uma redução das expectativas de consumidores e empresários. E, por fim, a alta do dólar não foi repassada para os preços, no mercado interno.

A China, motor da economia mundial, reflete de maneira clara esta situação, que se reflete no Brasil. Alçada em 2007 à condição de terceira maior economia mundial, atrás dos Estados Unidos e Japão, depois que o governo de Pequim revisou o crescimento do ano para 13%, apresentou em 2008 o mais baixo nível de desempenho desde 2001: a expansão da economia caiu para 8,3%. É uma situação inédita desde sua reforma econômica, há três décadas. Pela primeira vez, os três principais compradores de suas exportações baratas, EUA, União Europeia e Japão, vivem uma crise juntos.

O efeito que a decisão do Copom terá sobre o custo do crédito ainda é uma incógnita. Dependerá da estratégia a ser adotada pelas instituições financeiras. Como já aconteceu em outras ocasiões de queda da taxa de juros, no entanto, os bancos não repassaram toda a redução na Selic para os juros cobrados nos seus financiamentos.

De qualquer forma, nesta queda-de-braço entre governo e o setor privado, o Copom já indicou o caminho a seguir. Necessariamente, diante da pressão dos bancos oficiais, que já estão baixando suas taxas de juros, os bancos privados terão que cair na realidade e deixar de cobrar as taxas extorsivas que estão comprimindo ainda mais a economia e depenando o bolso do consumidor.

O Copom volta a se reunir nos dias 10 e 11 de março. E a tendência é que decida uma nova redução da Selic. A dosagem dependerá da reação da economia, com esta medida. Uma pequena luz, finalmente, sinaliza o horizonte.

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