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Os brasileiros e paranaenses continuam se sentindo convocados a decidir seu voto sob o influxo dos sucessivos escândalos que, sem pausa, emergiram durante a campanha e se mantêm até as vésperas da eleição. Faltam apenas três dias para que os eleitores depositem nas urnas a sua vontade cidadã, mas certamente o farão constrangidos por não terem conseguido vislumbrar dentre todos os candidatos aqueles que, de fato, tenham lhes oferecido perspectivas seguras de aperfeiçoamento institucional e de avanço nos campos social e econômico.

De fato – e não sem razão –, a questão ética sobrepujou todas as demais que, em condições normais, deveriam ser o cerne do processo de tomada de decisão dos eleitores. Temas como a criação de empregos, segurança pública, saúde, educação e saneamento, por exemplo, que tanto angustiam a população, foram tratados de forma superficial e insuficiente para que, ao menos, fosse possível diferenciar um candidato de outro. Já nem falemos de ingredientes políticos, partidários ou ideológicos que, ainda em passado recente, constituíam-se em critérios de escolha por parte do eleitorado.

Não. Desta vez, muito mais do que em qualquer outro pleito desde a redemocratização, o objeto de toda a discussão centrou-se em todas as variantes de delitos éticos com que a opinião pública foi bombardeada ao longo dos dois últimos anos, sem que houvesse sequer tempo para se entender a gravidade de qualquer deles e se desnudar por completo a cadeia de comprometimentos de dirigentes públicos, políticos em geral e seus agregados e cúmplices infiltrados nos mais insondáveis escaninhos da sociedade.

Por isso, seria natural que o assustador processo de degenerescência moral de que o Brasil está sendo vítima tenha sido colocado como quesito básico para a decisão eleitoral. No entanto, a se julgar por quase todas as pesquisas realizadas pelos institutos especializados na aferição dos humores da opinião pública, tal fator não está tendo peso suficiente para a mexer com as tendências.

De fato, muito embora todas as mazelas éticas tornadas públicas atinjam frontalmente o governo do presidente Lula e, concomitantemente ou não, o seu partido, as pesquisas eleitorais teimam em apresentá-lo como franco favorito – e, provavelmente, para vencer já em primeiro turno. Não se alegue que a maioria do eleitorado desconheça ou não entenda as denúncias. Simplesmente não as leva em consideração para cravar sua preferência pela manutenção no poder da mesma estrutura político-partidária que se enredou nelas.

O mesmo fenômeno parece estar ocorrendo no Paraná, embora as nuances de agressão à ética até agora reveladas no plano estadual se diferenciem daquelas que marcam o problema na esfera federal. Temos aqui como favorito para ganhar um governador candidato à reeleição que não prima pelo rigor ético dos métodos e opiniões que manifesta. A defesa da utilização de escutas ilegais foi, nesse sentido, um de seus últimos deslizes, para não se falar de outros cometidos em eleições passadas.

É, portanto, de perplexidade o quadro que se presencia tanto em nível nacional como estadual. Perplexidade que, se mantida nas urnas, merecerá estudos profundos por parte dos sociólogos e cientistas políticos.

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