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A declaração da vitória do candidato Renê Préval para a presidência do Haiti, decidida após a reinterpretação dos votos em branco pelo Conselho Eleitoral provisório, poderá significar um fim do "imbróglio" político no pequeno país do Caribe. Para o Brasil, que comanda as tropas de paz enviadas pelas Nações Unidas para apoiar a restauração da normalidade no Haiti, a possibilidade de estabilização é positiva, permitindo afinal o retorno de nossos pracinhas e o fim das elevadas despesas que essa operação representa.

É que logo após a queda do presidente Jean Bertrand Aristide, o atual governo brasileiro se ofereceu prontamente para despachar uma força expedicionária e assumir o comando da força de paz da ONU naquele país. A motivação de Brasília reside no desejo expresso pelo governo do presidente Lula de ocupar uma cadeira permanente no Conselho de Segurança da organização internacional de nações. Nessa dimensão, uma atuação de visibilidade e sucesso no Haiti reforçaria a candidatura brasileira.

O Palácio do Itamaraty nega tal correlação de fatores, argumentando ser de nossa tradição o apoio a missões de pacificação pelo mundo afora, na linha dos compromissos assumidos já em 1945 quando foi fundada a Organização das Nações Unidas. Sob o aspecto estritamente militar, a participação de um destacamento do Brasil em atividades externas de estabilização é benéfica, ao permitir um adestramento de campo para os soldados, atualização de equipamentos e doutrina operacional e, ainda, o travamento de relações com profissionais de defesa de nações em variados estágios de desenvolvimento.

Quanto ao problema haitiano em si, as turbulências que se registraram ali, desde a deposição do ex-presidente Aristide, assinalam a complexidade do quadro sociopolítico em um país acossado por problemas múltiplos, dos quais a pobreza é a evidência mais viva. O funcionamento de um sistema político estável é muito difícil numa situação dessas, requerendo uma abordagem realista dos apoiadores da normalidade – entre os quais alguns membros da comunidade americana de nações.

O mesmo problema foi observado na tentativa de "espalhar democracia" por outros continentes, objetivo inicial do governo dos Estados Unidos hoje substituído por um enfoque mais pragmático depois de reiterados insucessos. Como explica o perito em relações internacionais Demétrio Magnoli, professor da PUC-São Paulo, "democracia é mais do que a mera realização de eleições, incluindo existência de uma cultura de valores pluralistas e de respeito às regras do jogo constitucional".

Ainda em nosso continente, ao participar de evento sobre a América Latina, o ex-presidente argentino e ex-dirigente do Mercosul Eduardo Duhalde afirmou que, na era atual de globalização, a integração é a saída para o continente dialogar com o restante do mundo. O caso do Haiti, com as dificuldades para tornar viável um pequeno país insular, confirma essa lição da geopolítica.

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