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Com a exceção, talvez, da prisão de José Dirceu, nunca as investigações que nasceram do petrolão tenham chegado tão perto da cúpula do poder petista quanto nesta quinta-feira, em que a Operação Custo Brasil – desdobramento da 18.ª fase da Operação Lava Jato – levou à prisão preventiva de Paulo Bernardo, ex-ministro tanto de Lula quanto de Dilma Rousseff. Além disso, a Polícia Federal realizou buscas nos imóveis de Bernardo e da esposa, a senadora Gleisi Hoffmann, e também esteve na sede nacional do Partido dos Trabalhadores em São Paulo, apreendendo documentos na tesouraria da legenda.

O centro das investigações da Custo Brasil não é a pilhagem da Petrobras, e sim um suposto esquema montado no Ministério do Planejamento, pasta que Bernardo comandou desde 2005 até o fim do governo Lula, assumindo o Ministério das Comunicações com a posse de Dilma. Segundo a Polícia Federal, o esquema funcionaria por meio da empresa de informática Consist, contratada pelo ministério para fazer a gestão do crédito consignado adquirido por funcionários públicos federais em bancos privados. Entre 2009 e 2015, o desvio teria sido de R$ 100 milhões, dos quais escandalosos 70% acabaram nas mãos de agentes públicos ou funcionários da pasta, por meio de contratos fictícios ou simulados. Segundo a força-tarefa, um escritório de advocacia ligado ao ex-ministro teria recebido pelo menos R$ 7 milhões oriundos do esquema, dos quais R$ 5,6 milhões teriam ido para as mãos de Bernardo.

A possibilidade de envolvimento de um ex-ministro aproxima as investigações do coração do poder

A relevância da Operação Custo Brasil não está exatamente nos valores envolvidos, que empalidecem na comparação com outras roubalheiras – os R$ 100 milhões da Consist são menos do que um único ex-gerente da Petrobras, Pedro Barusco, devolveu aos cofres públicos após ser preso na Lava Jato. Mas as informações levantadas pela força-tarefa reforçam aquilo para que outras investigações já apontavam: a construção de um esquema amplo de poder, em que não apenas uma ou outra estatal, mas toda a estrutura do governo foi colocada, de uma ou outra forma, a serviço do projeto petista, ainda que outros partidos tenham se beneficiado dele, seja como coprotagonistas, seja como coadjuvantes – até mesmo porque a cooptação de outras legendas era necessária para a manutenção de uma base de apoio no parlamento.

Além disso, a possibilidade de envolvimento de um ex-ministro que ocupava um posto-chave no governo Lula, no Ministério do Planejamento, aproxima as investigações do coração do poder. Como dissemos, Bernardo não é o primeiro ex-ministro petista preso em decorrência das investigações iniciadas com a Lava Jato. Mas José Dirceu já estava fora do governo quando a fonte do mensalão secou e o PT resolveu buscar outros meios de abastecer seus cofres. Ele representa, podemos dizer, a dimensão “partidária” do esquema. Já a investigação no âmbito daqueles que operavam de dentro do governo havia pego, no máximo, diretores e gerentes de estatais; quando surgem denúncias, acusações e indícios que envolvem até mesmo alguém que agia na qualidade de ministro de Estado, a situação muda de patamar.

Por fim, a ação desta quinta-feira mostra que não só em Curitiba se trabalha diligentemente para colocar fim à rede de desvios instalada nas estruturas do poder federal. Os mandados vieram da 6.ª Vara Criminal Federal de São Paulo, e as investigações ficaram a cargo do Ministério Público Federal e da PF naquele estado. A investigação relativa à Consist é consequência do fatiamento da Lava Jato promovido no Supremo Tribunal Federal – um caso que, em setembro de 2015, foi tirado do juiz federal Sergio Moro, em uma decisão que o governo Dilma comemorou e que levantou dúvidas, inclusive por parte de ministros do STF e membros da força-tarefa da Lava Jato, sobre o futuro da operação. Saber que o trabalho exemplar realizado no Paraná encontra ecos pelo país é um conforto – a não ser, claro, para quem contava com a impunidade.

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