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Há um ano, no dia 15 de março de 2011, irrompiam na Síria as manifestações populares pela queda do ditador Bashar Assad. No rastro das insurgências – a chamada Primavera Árabe – que apearam do poder ditaduras longevas do Egito, Líbia, Iêmen e Tunísia, o sentimento por liberdade e reformas também levou a população síria às ruas. Da cidade de Deraa, berço da rebelião, os protestos contra o governo se espalharam pelas principais cidades do país.

A reação oficial não demorou a ocorrer, com Bashar Assad utilizando-se de mão de ferro para sufocar os anseios populares por mudanças. Passado um ano, os protestos persistem como também a reação dura do governo, disposto a não ceder um palmo de terreno aos rebeldes. Uma tragédia que já provocou a morte de mais de 8 mil sírios pelas forças de repressão e um êxodo em direção a países próximos. Segundo cálculos da ONU, cerca de 30 mil pessoas buscaram refúgio na Turquia, na Jordânia e no Líbano para fugir da guerra civil que se instalou na Síria.

A realidade da Primavera Síria vem se mostrando diferente das manifestações semelhantes ocorridas em outros países da região. Enquanto oligarcas como Hosni Mubarak (Egito); Muamar Kadafi (Líbia); Ali Abdullah Saleh (Iêmen); e Zine Abidine Ben Ali (Tunísia) não resistiram mais do que meses e alguns até dias, Assad não dá sinais de que pretende deixar o poder. A resposta do governo aos rebeldes é a repressão às manifestações com toda a violência que o aparato militar oficial tem à disposição. Tropas do Exército patrulham as ruas das maiores cidades, também sujeitas a um toque de recolher que começa às 19 horas e chega a se estender por 12 horas. Em Deraa, o estádio de futebol e as escolas foram transformados em centros de detenção e a maioria das famílias chora pelo menos um parente morto, preso ou desaparecido.

O martírio experimentado pela população local é um inequívoco atestado da incompetência em que está mergulhada a diplomacia internacional. Em síntese, o drama repete inúmeros outros episódios de massacres e genocídios ocorridos pelo mundo em que as Nações Unidas se mostraram absolutamente incompetentes em atuar. No caso específico da Síria, de um lado as potências ocidentais pressionam por mudanças como única saída para a crise, enquanto a Rússia e China, históricos aliados de Damasco, são contra qualquer ação externa no país. Um jogo de poder e de interesses que acaba beneficiando Assad e sua disposição férrea de manter-se no cargo a qualquer custo.

No poder desde 2000, Bashar Assad recebeu o governo de seu pai, Hafez Assad, que governou por longos 30 anos. Recentemente, o governo sírio convocou eleições parlamentares para o mês de maio, numa manobra para diminuir a pressão externa sobre o país e a tensão popular interna. Eleição que está longe de significar a possibilidade de uma mudança efetiva na estrutura de regime dominante na Síria, fruto da realidade social e religiosa. Assad pertence ao Partido Ba’ath, do qual faz parte a elite política síria, que predomina sobre uma oposição fragmentada por diferentes setores da sociedade, mas sem a força necessária para impor as pretendidas mudanças. Diante desse panorama sombrio, a Primavera Síria cada vez mais se caracteriza como uma Primavera de Sangue, lamentavelmente.

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