Em sua viagem ao Nordeste, o presidente Lula anunciou, com toda a fanfarra possível, a retomada das obras da Refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco. A unidade localizada na região metropolitana do Recife, um dos projetos mais megalomaníacos da Petrobras, deve consumir pelo menos mais R$ 8 bilhões, quase metade do orçamento da estatal para as áreas de refino, comercialização e logística nos próximos cinco anos. Se tudo der certo – e o “se” aqui faz toda a diferença, dado o histórico de Abreu e Lima –, a refinaria poderá processar até 260 mil barris de petróleo por dia, contra os atuais 100 mil.
Abreu e Lima nasceu de uma convicção jurássica – na qual o Estado é o grande indutor da atividade econômica, especialmente por meio de grandes obras – alimentada pela parceria ideológica entre Lula, em seu primeiro mandato presidencial, e o caudilho venezuelano Hugo Chávez: a estatal PDVSA seria sócia da Petrobras na refinaria, o petróleo a ser refinado viria de ambos os países em partes iguais, e a companhia brasileira poderia explorar petróleo na Faixa do Orinoco, a principal área produtora da Venezuela. O custo de US$ 2 bilhões, previsto quando tudo ainda estava no papel, em 2005, já havia dobrado no início das obras, em 2007, mas no fim Abreu e Lima consumiria US$ 18,5 bilhões, merecendo o título de “refinaria mais cara do mundo” – tudo bancado pelo Brasil, já que os venezuelanos deram um calote.
Estatismo extremo, camaradagem ideológica, corrupção desenfreada, desperdício e ineficiência – Abreu e Lima é um resumo perfeito do que tem sido o petismo no poder
E boa parte desse dinheiro sumiu pelos ralos da ladroagem, como atestou a Operação Lava Jato. Só Abreu e Lima rendeu pelo menos cinco condenações por corrupção e lavagem de dinheiro em contratos da refinaria, proferidas em 2021 pelo então juiz da 13.ª Vara Federal de Curitiba, Luiz Antônio Bonat. A Lava Jato, aliás, não poderia deixar de estar presente no discurso de Lula em Ipojuca. “A história ainda vai ser contada, porque você sabe que, muitas vezes, a história ainda leva anos, décadas e até séculos para a gente saber da verdade”, disse o petista, para se contradizer logo depois, afirmando saber desde já que “tudo que aconteceu neste país foi uma mancomunação entre alguns juízes deste país, alguns procuradores deste país subordinados ao Departamento de Justiça dos Estados Unidos, que queriam e nunca aceitaram o Brasil ter uma empresa como a Petrobras”.
Lula pode dizer o que quiser, pode tentar reescrever a história a seu modo, mas não tem como negar o esquema bilionário montado pelo petismo em conluio com partidos aliados e empreiteiras para sugar as estatais, especialmente a Petrobras, e financiar o projeto petista de perpetuação no poder. As confissões, o dinheiro devolvido e a vastíssima documentação levantada pela Lava Jato em sete anos de trabalho diligente são mais que suficientes para desmentir Lula. Ainda que um dia o STF não permita que uma única página desse conjunto probatório seja usada em um tribunal, nem os ministros da corte nem Lula têm o poder de mudar a verdade sobre “tudo que aconteceu neste país”: a Lava Jato não foi um conluio com o objetivo de arruinar a Petrobras e as empreiteiras em nome de interesses estrangeiros, mas a descoberta e o combate ao maior esquema de corrupção da história do país. A Petrobras não foi vítima da Lava Jato, mas dos corruptos.
Estatismo extremo, camaradagem ideológica, corrupção desenfreada, desperdício e ineficiência – Abreu e Lima é um resumo perfeito do que tem sido o petismo no poder. Este, sim, é o “Brasil que voltou”, para usar um slogan bastante caro à militância e à máquina de propaganda governamental. No fim das contas, faz todo o sentido que Lula tenha escolhido a refinaria como símbolo de seus planos para o país, e ninguém haverá de se surpreender se ela voltar a ser o sorvedouro de dinheiro que foi durante sua construção.
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