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O fracasso das negociações da Rodada de Doha, abertas há mais de quatro anos pela Organização Mundial do Comércio (OMC), representa um golpe na liberalização comercial em curso no planeta sob o influxo de mudanças que aceleraram o intercâmbio entre as nações. Não temos condições objetivas para uma análise equilibrada da questão, mas à primeira vista o Brasil sai perdendo com esse desfecho, porque terá que se voltar para o intercâmbio via acordos bilaterais, em que sua posição negociadora pode ser menos substantiva em face de grandes atores econômicos mundiais.

Ainda há esperança de salvar a rodada porque o prazo para o fechamento de um acordo preliminar – coberto pelo mandato especial conferido pelo Congresso dos Estados Unidos ao presidente George W. Bush – vai até o fim da próxima semana e líderes destacados como a chanceler alemã Ângela Merkel se empenhavam, ontem, em reatar as conversações. Mas o presidente norte-americano não hesitou em disparar, já na primeira hora após a notícia do insucesso, contra o Brasil e a Índia, a seu ver responsáveis pelo bloqueio ao avanço dos entendimentos.

De toda forma as dificuldades para chegar a um acordo viável sobre comércio exterior eram muitas e previsíveis. Primeiro, durante a fase inicial da rodada aberta em Doha, capital do Catar, os próprios países em desenvolvimento, reunidos no G-20 sob coordenação brasileira, apresentaram propostas ambiciosas quanto à obtenção de compensações por parte dos países industrializados. Mais tarde a Europa, Estados Unidos e Japão – grandes países produtores de bens industriais – criaram obstáculos às negociações com os exportadores agrícolas como o Brasil, cedendo pouco para acesso a seus mercados e exigindo muito dos parceiros emergentes.

Doutro lado alguns países em desenvolvimento, que são exportadores de alimentos mas querem consolidar sua indústria, demonstraram relutância em cooperar para o sucesso de uma nova rodada de liberação comercial. Assim, na semana passada a Argentina rejeitou em base preliminar a aceitação de qualquer redução de suas tarifas industriais no bojo da Organização Mundial de Comércio. Nesta semana a Venezuela se juntou à Bolívia para denunciar a liderança brasileira, enfraquecendo a possibilidade de sucesso da Rodada de Doha.

O comportamento de alguns vizinhos sul-americanos, a propósito, encerra uma lição para os executores de nossa política externa, já às voltas com dores de cabeça após o convite para que o venezuelano Hugo Chávez, cujas ações demonstram pouco apreço pelo bom senso e pelos princípios democráticos, ingresse no Mercosul.

Por isso, a lição com o fracasso da Rodada de Doha encerra um sentido: os próximos passos da diplomacia brasileira devem buscar a restauração da linha de atuação do Barão do Rio Branco, que durante um decênio dirigiu nossa política externa com realismo e sensatez.

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