As necessidades do Brasil para os próximos quatro anos, pelo menos, já estão suficientemente expostas, ainda que o país tenha descoberto essa realidade da pior maneira possível. A “nova matriz econômica” petista, caracterizada pelo estímulo ao crédito irresponsável e gastança governamental sem limites, lançou a nação em um abismo econômico que culminou com inflação de dois dígitos e quase 14 milhões de brasileiros desempregados.
O governo de Michel Temer, apesar de todas as suas debilidades morais, conseguiu frear a crise e a maioria dos indicadores registrou melhora expressiva. A inflação, que corrói o poder de compra do brasileiro e é especialmente cruel com os mais pobres, ficou abaixo do piso da meta do Banco Central em 2017, e deve permanecer baixa neste ano, apesar do choque nos preços causado pela greve dos caminhoneiros.
Os juros também caíram de forma gradual até o mais baixo patamar da série histórica, sem as reduções voluntaristas da época de Dilma Rousseff e que tiveram de ser revertidas assim que a petista conquistou a reeleição, em 2014. Juros mais baixos são um estímulo para o setor produtivo, que ganha mais segurança para investir e gerar emprego – justamente o indicador que demora a reagir, mostrando que a recuperação não é trabalho fácil.
O que acontecerá se as urnas consagrarem um ideário avesso a reformas?
E mesmo o que já foi conquistado, agora, corre riscos. Por mais que a greve dos caminhoneiros tivesse insuflado em alguns a esperança de se estar diante da grande revolta que levaria à redução da carga tributária, o movimento esteve muito longe disso, resumindo-se a demandas puramente corporativistas. Um governo que já tinha perdido a força necessária para aprofundar as reformas econômicas, tendo de sacrificar todo o seu capital político no Congresso Nacional para livrar Temer de denúncias da Procuradoria-Geral da República, entregou o pouco que ainda tinha, como a cabeça de Pedro Parente, que vinha comandando a recuperação da Petrobras, ainda que se possa fazer críticas à política de preços instituída sob sua gestão.
Mas, a essa altura, Michel Temer é o menor dos problemas. Em sete meses ele estará longe do Planalto. O verdadeiro perigo está em como a crise dos caminhoneiros e tudo o que veio a seu reboque vai pautar o processo eleitoral que já está em curso. Não é mera coincidência que haja pré-candidatos subindo nas pesquisas defendendo o populismo estatizante, enquanto muitos dos que se dizem comprometidos com reformas patinam na preferência do eleitorado. O debate sem rodeios sobre a necessidade de ajustes mais profundos corre o risco de acabar soterrado.
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E, se a greve dos caminhoneiros já conseguiu ampliar a insegurança no país –, com uma disparada do dólar e impacto inflacionário ainda a ser avaliado, além da manutenção da tensão por causa da mal resolvida questão do frete, resultado da intervenção atabalhoada do governo –, o que acontecerá se as urnas consagrarem um ideário avesso a reformas? Não é um risco desprezível, até porque a população se mostra apática e desconfiada em relação à capacidade de o governo entregar aquilo de que o Brasil precisa. Um sintoma preocupante relativo à participação política foi medido pelo Índice de Democracia Local, divulgado semanas atrás pelo Instituto Atuação em parceria com a Gazeta do Povo: se o voto fosse facultativo, 48% dos entrevistados não iriam às urnas. Se o ato em si de escolher um representante não atrai o cidadão, que interesse ele terá nas discussões que envolvem essa escolha?
As instituições têm sua parcela na construção desse descrédito, quando seus integrantes colocam as próprias prioridades à frente dos anseios da população e deixam de agir com a firmeza necessária diante das crises. O brasileiro não precisa de salvadores da pátria voluntaristas – o Brasil já teve uma boa dose deles e o resultado sempre foi o desastre –; basta que as autoridades cumpram seu papel com diligência e terão o respeito do cidadão.
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