Rodovias mal conservadas são um dos fatores que ajudam a minar a produtividade nacional.| Foto: Brunno Covello/Arquivo/Gazeta do Povo
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Se o Brasil definisse como meta socioeconômica prioritária a melhoria expressiva no padrão médio de vida da população nas próximas duas ou três décadas, a possibilidade de ter êxito seria real se a renda por habitante, medida pelos indicadores oficiais de bem-estar social, atingisse o dobro do valor atual. Para tanto, o Produto Interno Bruto (PIB) teria de crescer em torno de 5% ao ano, ante aumento médio da população em torno de 0,6% neste período. É por essa e outras razões que o crescimento do PIB tem de ser tratado como prioridade, inclusive por ser condição necessária, porém não suficiente, para eliminar a miséria e reduzir a pobreza. Nesse cenário, a variável mais importante é a produtividade nacional, também chamada de produtividade/hora do trabalho, que é obtida dividindo-se o PIB anual pelo número total de horas que a população trabalhou no mesmo período.

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O aumento do PIB pode ocorrer a uma taxa elevada sem que haja aumento da produtividade; isso acontece quando há redução do desemprego, ou seja, aumento do número de trabalhadores ocupados, que leva ao consequente aumento do total de horas trabalhadas no ano. Se o PIB crescer à mesma taxa de aumento das horas trabalhadas pela população, não haverá elevação da produtividade. Esse tipo de situação ocorre costumeiramente quando há elevado desemprego e, na sequência, a economia se recupera, o desemprego cai, pessoas que estavam desocupadas entram no processo produtivo e o produto nacional sobe. É uma situação considerada boa, pois a redução do desemprego traz uma série de resultados econômicos e sociais favoráveis. Porém, a saída da condição de país pobre exige um aumento da produtividade nacional que promova melhoria da renda por habitante e, justamente por isso, leve à supressão da miséria, à redução da pobreza e à redução das desigualdades sociais.

Além do fator trabalho, concorrem para a produtividade os recursos naturais, o capital físico, a iniciativa empresarial e o conhecimento tecnológico, itens que revelam os gargalos da economia brasileira quando comparados com os países desenvolvidos

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É importante realçar que, mesmo tomando mais de um terço de toda a renda nacional todos os anos de forma coercitiva pelos tributos, o setor público não tem sido capaz de vencer os males sociais já referidos, em face dos vícios estatais como ineficiência, corrupção e enriquecimento da elite instalada na máquina pública - algo que, a bem da verdade, ocorre no mundo todo em maior ou menor grau. Um terço de toda a renda nacional apropriada pela máquina estatal é uma fração tão grande que faz do Estado o principal responsável pelo país não conseguir reduzir a miséria e a pobreza, e estar patinando no objetivo de reduzir as desigualdades sociais. Nos países ricos, a redução desses graves males também não se faz principalmente pela ação estatal, mas pelo expressivo valor do PIB por habitante, que a sociedade produz com a contribuição de elevada produtividade.

Segundo a nova metodologia internacional, a produtividade brasileira está em US$ 18,50/hora diante de US$ 79/hora nos Estados Unidos. Esses dados fazem a produtividade brasileira corresponder a pífios 23,5% da norte-americana. É uma distância grande, que mostra o quanto o Brasil tem por fazer e o longo caminho de crescimento que o país tem pela frente. A velha indignação se repete e continua lícito perguntar que fatores levam a uma diferença tão expressiva, considerando que os trabalhadores brasileiros não são inferiores aos norte-americanos ao ponto de o Brasil apresentar produtividade tão mais baixa. De forma resumida, sabe-se que, além do fator trabalho, concorrem para a produtividade os recursos naturais, o capital físico, a iniciativa empresarial e o conhecimento tecnológico, itens que revelam os gargalos da economia brasileira quando comparados com os países desenvolvidos. Adicionalmente, a estrutura legal, o ambiente institucional e a segurança jurídica interferem para melhorar ou piorar o quadro da economia real.

Um componente da baixa produtividade já constatado de sobra é a deficiência que o Brasil tem quanto à infraestrutura física. Rodovias, ferrovias, portos, aeroportos, energia, mobilidade urbana e armazenagem, só para citar alguns, são subsetores em que o capital físico é pequeno, envelhecido e tecnologicamente defasado. Nesse sentido, a primeira providência que tem de ser atacada rapidamente é o investimento em infraestrutura física. Novamente, parte do baixo investimento nessa área resulta da falta de quantidade e qualidade do gasto público: mesmo com arrecadação equivalente a um terço do PIB, o gasto médio anual em investimentos do setor público gira em torno de 2,5% do PIB. É muito pouco, e aí reside um grave problema.

A produtividade e a necessidade de aumentá-la com urgência é mais um dos temas de alta prioridade no debate político, especialmente em ano de eleição, com o destaque de que o crescimento e a melhoria da renda nacional são do interesse dos empresários, dos investidores e de todos os agentes de mercado, pois os benefícios gerados pela melhoria das condições de vida das camadas mais pobres da população expandem as oportunidades para todos os habitantes da nação.

Infográficos Gazeta do Povo[Clique para ampliar]
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