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Apesar dos números vistosos apurados em julho no comércio exterior, especialistas reunidos pela Fundação Getúlio Vargas chegaram ao consenso de que os indicadores gerais (vendas no mercado interno, investimento das empresas etc.) são menos positivos e, para crescer mais do que os 2,2% da média dos últimos anos, o Brasil precisa melhorar sua política econômica, hoje basicamente sustentada pela taxa de juros. Entre outros instrumentos, que por necessidade de apoio político deverão ser aplicados pelo próximo governo, estão o choque de gestão na área pública com corte de gastos correntes, redução da carga tributária que bloqueia o investimento e adoção de uma taxa de câmbio competitiva.

O primeiro ponto apoiado pelos economistas reunidos na instituição de estudos é que o crescimento das despesas governamentais acima do crescimento da economia (aumento do PIB) é insustentável. A projeção oficial é que o gasto com funcionalismo, por exemplo, crescerá 10% acima da inflação neste ano, fruto de liberalidades eleitorais e da autonomia de certos ramos da Administração na majoração de vencimentos. Essa "bola de neve" empurra a dívida pública para cima (está em 50,3% do PIB), explica a expansão insaciável de impostos e mantém a taxa de juros em níveis reais superiores a 10%, pela necessidade que o Tesouro tem de captar recursos para financiar o déficit nas contas públicas.

A adoção do conceito de "superávit primário" transmite uma falsa noção de equilíbrio. Por isso o professor Yoshiaki Nakano, ligado ao candidato presidencial Geraldo Alckmin, propõe sua substituição pelo "déficit nominal", a ser eliminado em três anos via forte ajuste nas despesas. O deputado Delfim Netto, ligado ao governo, e o próprio ministro Paulo Bernardo concordam: eles mesmos propuseram zerar o déficit, mas num prazo mais amplo, o que permitiria a retomada do crescimento econômico.

De fato, da mesma forma que adota metas para a inflação, o Brasil pode buscar metas para o crescimento, desde que a sociedade – através de suas lideranças políticas a serem eleitas dentro de dois meses – apóie estratégias vigorosas nesse sentido. Mesmo porque a realidade atual, aparentemente sólida, continua frágil: apesar do recorde na exportação de julho, os bens de maior valor agregado como veículos fabricados no Paraná estão em queda; na soja a cada ano a Argentina absorve parcelas de nossos mercados.

Os economistas Armínio Fraga, ex-presidente do Banco Central e Nathan Blanche, da área acadêmica, concordam que a autoridade monetária precisa usar o instrumento dos juros para compensar a expansão do gasto público, o que acaba gerando um crescimento tipo vôo de galinha. É certo que as instituições políticas também padecem de disfunção – como dão prova as novas denúncias de corrupção nas relações entre o Congresso e o Executivo – mas nós brasileiros devemos aproveitar o momento eleitoral para um caminho sólido na economia, com ações competitivas para aproveitar as oportunidades que ainda existem no mundo globalizado.

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